Timor Hau Nian Doben
Os governos liderados pelo atual primeiro-ministro, Xanana Gusmão, entre 2007 e 2015, estão sob investigação do Tribunal de Contas devido a perdas financeiras significativas identificadas nesse período, que totalizam 2,3 biliões de dólares.
Entre as principais irregularidades apontadas, destaca-se a adjudicação direta da empresa Esperança Timor Oan (ETO) sem concurso público, resultando, alegadamente, numa perda de 1,4 bilião de dólares para o Estado. A ETO pertence a Nilton Gusmão, sobrinho de Xanana, o que levanta suspeitas de favorecimento dentro dos seus sucessivos governos.
Além de beneficiar o sobrinho, há suspeitas de favorecimento à filha Zenilda Gusmão. Uma investigação da ABC Radio Australia revelou que a empresa Prima Food, na qual Zenilda era uma das principais acionistas, recebeu, em 2008, um contrato governamental no valor de 3,5 milhões de dólares para o fornecimento de arroz. Esta ligação levanta sérias questões sobre possíveis conflitos de interesse e práticas de nepotismo dentro dos governos do primeiro-ministro.
Outro exemplo de gestão irregular envolve a construção da ponte de Comoro, inicialmente orçada em 22 milhões de dólares, mas cujo custo final atingiu 265 milhões de dólares, sem, ao que se diz, qualquer explicação plausível. O paradeiro de 243 milhões de dólares, segundo consta, continua desconhecido.
Há ainda suspeitas sobre outros projetos de grande escala, incluindo o porto naval de Hera, o fornecimento de combustível para as centrais elétricas de Hera e Betano, a autoestrada entre Suai e Covalima, bem como a construção de casas destinadas à população vulnerável.
A auditoria ao atual governo ainda está em curso, mas há indícios de que a ministra da Saúde, Élia do Amaral, poderá também estar na mira da justiça por diversas irregularidades, incluindo abuso de poder ao adjudicar contratos de compra de medicamentos diretamente à empresa Salimago, sem concurso público. Os medicamentos adquiridos, sem garantia de qualidade, foram descartados há algumas semanas, enquanto hospitais por todo o país enfrentam escassez de fármacos básicos, como paracetamol.
O chefe do governo reagiu a estas acusações, afirmando que “a população já não confia na justiça, incluindo ele próprio, devido às inúmeras irregularidades existentes no sistema judicial”.
O primeiro-ministro revelou que recebeu documentos da Câmara de Contas e do Tribunal de Recurso de Timor-Leste, resultantes de uma auditoria realizada em 2015, que alegam o envolvimento dele e de outros membros do governo em vários casos de corrupção.
"Nestes documentos, mencionam que o primeiro-ministro Xanana, o Gastão, a Santina e outros se apropriaram indevidamente de dinheiro do Estado em 2015. Foi por isso que apresentei esta questão ao Presidente da República, pois agora a Dra. Lúcia Lobato tem a responsabilidade de melhorar o sistema de justiça. Há muitas pessoas que se sentem injustiçadas, porque as suas terras foram ocupadas e os seus bens confiscados sem qualquer indemnização. Como resultado, deixaram de acreditar na justiça. Eu próprio já não confio", declarou Xanana.
O Parlamento Nacional aprovou, há cerca de duas semanas, a votação final global de uma nova lei que regula o recrutamento de magistrados e defensores públicos não timorenses, abrindo caminho para o regresso de juizes e magistrados estrangeiros a Timor-Leste, após terem sido expulsos pelo governo de Gusmão em 2014.
Na altura, Xanana acusou os juízes de “incompetência”, responsabilizando-os de alegadamente terem lesado o Estado timorense em 28 milhões de euros e deu-lhes 48 horas para saírem do país.
O jornal português, Diário de Notícias, relatou, em 5 de novembro de 2014, que “os portugueses expulsos investigavam oito ministros do governo de Xanana. Juízes e procuradores estavam ligados a uma verdadeira operação ‘Mãos Limpas’, que decorria há três anos. Um deles era juiz titular do processo contra a ministra das Finanças de Timor-Leste”.
"Um verdadeiro golpe de Estado e um afastamento por motivos políticos. Estas terão sido as razões para o governo de Timor, liderado por Xanana Gusmão, ter ordenado a expulsão de oito portugueses, entre cinco juízes, dois procuradores e um oficial da PSP, segundo fontes conhecedoras do processo contaram ao DN. Os oito expulsos estavam ligados à investigação de vários ministros do executivo timorense por corrupção, numa autêntica operação Mãos Limpas que decorria há cerca de três anos", noticiou o jornal português.