sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

USAID corta fundos, Ramos-Horta tranquilo, afinal só os pobres sofrem


 Malae Mutin 

Milhares de funcionários da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) vão para casa de mãos a abanar a partir de hoje. 

O corte na assistência externa ordenado pelo recém-eleito Presidente dos EUA, Donald Trump, está a gerar caos nas  organizações humanitárias, governos e, claro, aqueles que realmente perdem com tudo isto, os trabalhadores que dependem destes empregos para sobreviver.

Mas não se preocupem, em Timor-Leste tudo está sob controlo! O Presidente José Ramos-Horta, num ato de genuína compaixão, assegurou que “o impacto será mínimo em Timor-Leste”. Afinal, quando foi que um corte na ajuda externa alguma vez afetou os altos círculos do poder?

Para os trabalhadores timorenses que dependem dos projetos financiados pela USAID, a história é outra. Mas, segundo Horta, isso são meros detalhes. Se a USAID quiser encerrar, que encerre, diz ele, num tom despreocupado. Timor-Leste vai procurar outras parcerias.

"Também nós podemos fazer a nossa avaliação e decidir quais as parcerias que queremos manter ou procurar novas que nos interessem. Por isso, não estou preocupado com esta questão", sublinhou o Presidente, enquanto certamente não pensava nas centenas de timorenses que ficarão sem trabalho e sem sustento.

E não é só Timor-Leste que brilha nesta história. Afinal, este corte na ajuda externa afeta inúmeros países que, ao longo das décadas, tornaram-se verdadeiros mestres na arte de receber fundos internacionais sem que o povo veja qualquer melhoria nas suas condições de vida.

A fórmula é infalível, os fundos chegam, os governos anunciam projetos, são contratadas consultorias internacionais (a preços astronómicos, claro), realizam-se estudos de impacto, lançam-se programas de capacitação… e, no final, o povo continua sem estradas, sem hospitais, sem escolas decentes, sem nada.

Mas Ramos-Horta, sempre perspicaz, apontou o óbvio,  "Grande parte da ajuda internacional é gasta em estudos e consultorias, com o dinheiro a ser pago diretamente aos seus próprios especialistas, e apenas uma pequena parte chega efetivamente ao desenvolvimento".

Que revelação inesperada! Quem diria que durante décadas os fundos internacionais serviram, na sua maioria, para financiar escritórios luxuosos, conferências intermináveis e relatórios esquecidos em gavetas?

Mas há que reconhecer que, pelo menos, os altos dirigentes nunca passam por dificuldades. A ajuda humanitária pode ir desaparecendo, os projetos podem fechar, os trabalhadores podem perder os seus empregos, mas o conforto dos palácios presidenciais e dos gabinetes ministeriais nunca está em risco.

No final do dia, os cortes da USAID só são um problema para quem realmente trabalha. Para os que sempre viveram no topo da pirâmide, será apenas mais um ciclo. Vêm uns fundos, vão-se outros, e a roda continua a girar. Até porque, no jogo da ajuda humanitária, os únicos que nunca são ajudados… são os que mais precisam.

Mas claro, fechar as portas aos fundos internacionais pode ser mesmo a melhor estratégia para Ramos-Horta e para o governo de Xanana. Afinal, imaginem o transtorno se esse dinheiro fosse parar nas mãos erradas, aquelas que ousam combatê-los! Seria um desastre absoluto para quem se acostumou a gerir os cofres do Estado como se fossem o seu próprio cofrinho. 

Melhor assim, menos dinheiro significa menos tentação, e a corrupção pode continuar a reinar em paz, sem interferências incômodas de quem insiste em transparência e responsabilidade.

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