Bere Talo
Era uma vez uma terra chamada Quinta de Timor, habitada por animais que, durante séculos, viveram sob o chicote do Senhor Português e depois sob as garras do ainda mais feroz Senhor Indonésio.
Era fome para cá, chicotada para lá, até que os animais, cansados de apanhar, resolveram que era hora de mudar a história. Liderados por dois porcos muito eloquentes, Xanão e Ramos, fizeram uma grande revolução.
Ah, o triunfo foi maravilhoso! O povo dançava, cantava e sonhava com um futuro radiante. "Agora sim! Justiça, igualdade e prosperidade para todos!", repetiam enquanto arrancavam as velhas placas da Quinta e erguiam novas, com lemas muito inspiradores: "A Quinta é do povo!", "Ninguém fica para trás!", "Todos somos iguais!"
Nos primeiros tempos, parecia que ia mesmo dar certo. Mas, como todas as boas histórias, esta também teve uma reviravolta, e das grandes. Mal se instalaram nas suas novas e confortáveis casinhas, Xanão e Ramos começaram a perceber que afinal governar dava muito trabalho.
"Dividir tudo? Todos iguais? Isso parece bonito no papel, mas, e nós?", pensaram. E assim começou a pequena (ou melhor, grande) transformação. Primeiro, passaram a tomar decisões "em nome do bem comum" , mas, curiosamente, o bem comum parecia beneficiar sempre os seus amigos e familiares mais próximos.
As promessas de igualdade? Substituídas por contratos exclusivos para os amigos mais leais.As melhorias para todos? Bem, melhoraram sim... mas só para os que estavam suficientemente perto do salão dos banquetes. O resto do povo? Esse continuava a trabalhar e a sobreviver com o mínimo.
Foi então que surgiu um caso brilhante. António, o Porco Arguido, foi nomeado embaixador. Claro, havia muitos outros animais competentes e honestos para o cargo, mas quem se importa? "A presunção de inocência aplica-se a todos!", berravam os líderes. E de facto aplica-se, mas quem é que disse que era boa ideia nomear um arguido para um cargo de tão alta importância? No entanto, na Quinta de Timor, a lógica tem as suas próprias regras.
"Só um arguido pode representar bem a Quinta!", alguém cochichou. E assim foi feito. O povo ficou a assistir, confuso, mas ninguém disse muito, porque já tinham aprendido que na nova era de liberdade, perguntar coisas demais podia trazer problemas.
Enquanto isso, a parede da Quinta foi sendo reescrita. O lema original desapareceu. No seu lugar, surgiu uma nova frase, mais curta, mais honesta, mas também mais cruel:
"Todos os animais são iguais, mas alguns são muito mais iguais do que outros."
E assim, a revolução que tinha prometido acabar com todas as injustiças transformou-se num espetáculo onde apenas o cenário mudou. Os antigos exploradores foram substituídos por uma nova elite de porcos bem alimentados e bem instalados, que agora viviam tal e qual os antigos senhores, mas sempre a recordar ao povo:
"Lembrem-se de como era antes. Agora está muito melhor!"
E estava melhor, para eles. Para o resto dos animais, a miséria continuava a ser o prato do dia.
Nota blogue: Este texto é uma adaptação hilariante de Bere Talo inspirada no livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell.
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