Queridos leitores,
Hoje venho deixar-vos uma prendinha, meus senhores. :)
Desde pequenina que todos os Natais eu leio um livro de um dos meus escritores favoritos,“ A Christmas Carol”, em Português, “Um Conto de Natal” de Charles Dickens. Este livro mostra que o verdadeiro significado do Natal não está nas coisas materiais, mas sim na bondade, mudança, generosidade, redenção, esperança e na ajuda ao próximo em tempo de necessidade. Leiam que é lindo.
Charles Dickens neste livro foca também nas desigualdades sociais por isso pensei, talvez se os maun boots lessem este livro, talvez aconteça o tal milagre que demora a acontecer, dar ao povo timorense a vida que ele merece e não se mascararem em Pai Natal e espalharem migalhas envenenadas ao povo, como continuamente fazem Xanana e Ramos-Horta.
Em 2015 um grande amigo meu, André, deu-me um livro lindo de Sophia de Mello Breyner Andresen” O Anjo de Timor” e desde então que leio os dois livros todos os anos no Natal, ambos renovam a minha esperança num mundo melhor para todos nós.
Feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde, paz e amor , o resto vem depois.
Deixo-vos então uma prenda (quem é amiga quem é?), “O Anjo de Timor” de Sophia de Mello Breyner Andresen. Lamento informar que provavelmente não encontram este livro nas livrarias porque foi uma edição única e muito limitada. Sortuda que eu sou de ter um exemplar para mim! Obrigada, rapaz!
Beijos, abraços e portem-se bem.:)
Zizi
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Sophia de Mello Breyner Andresen in, "O Anjo de Timor"
Há muitos, muitos anos, em Timor, vivia um liurai muito poderoso e muito bom. Na sua juventude, resolveu ir correr mundo, para se tornar mais sábio.
Foi viajando de barco, de ilha em ilha, até chegar a uma terra distante. Ali, um dia, conheceu um mercador vindo de muito longe, dos países do lado do poente, e que também ele andava há longos anos em viagem.
Esse mercador contou-lhe que, na sua viagem, tinha ouvido contar que, ainda muito mais longe, para além das montanhas, oceanos e dos imensos desertos de areia, vivia um povo que adorava um Deus único e todo-poderoso, criador de todas as coisas e do próprio homem. Acredita que o seu Deus, um dia, descerá à Terra para salvar todos os homens.
- Quero ir ao país onde mora esse povo - disse o timorense.
- Quero ouvir mais notícias do Deus que um dia descerá dos céus e viverá entre nós.
- Ai, é impossível - respondeu o mercador.
- Esse país fica tão longe que, mesmo se viajasses a tua vida inteira, não conseguirias lá chegar.
E assim ficaram falando toda a noite, mas, no dia seguinte, o mercador partiu de barco para a sua terra. Quando o barco desapareceu ao longe, o liurai pensou:
- Já vi tantos lugares e tantos povos, mas não posso encontrar o povo que adora o Deus único, porque, mesmo que viajasse a vida inteira, não conseguiria lá chegar. Por isso, de que me serve viajar mais? E voltou para a sua terra.
Foi uma viagem longa, comprida e difícil. Quando chegou à sua casa era alta noite e já todos dormiam. Estava tão cansado que, mal entrou, adormeceu estendido no chão. E enquanto dormia, ouviu em sonhos uma voz que lhe disse que esperasse, esperasse sempre, pois um dia, a meio da noite, Deus lhe mandaria um sinal.
Na manhã seguinte, a família do liurai recebeu-o com grande alegria, porque a viagem durara anos e anos, e já ninguém sabia se ele era vivo ou morto. Os seus pais mandaram chamar parentes e amigos e nessa tarde todos cantaram e dançaram para festejar o seu regresso. Mas quando todos partiram e os que moravam com ele adormeceram, o liurai foi-se sentar à porta da sua casa, à espera do sinal de Deus. Ali ficou, mudo e atento, e só depois do meio da noite foi dormir. Daí em diante, foi sempre assim.
Durante o dia, o liurai encontrava-se com os seus amigos e parentes e presidia à vida e aos trabalhos da população. Era um chefe amado e respeitado, porque era bom, justo e sábio. Mas à noite, quando todos tinham adormecido, sentava-se de novo sozinho, à porta da sua casa, à espera de um sinal de Deus. Escutava os barulhos da noite, o suspiro do vento nas árvores, a voz do mar ao longe, respirava os perfumes da noite - cheiro da terra, aroma das flores, aroma do sândalo, cheiro distante do mar. Olhava sem fim o brilho das estrelas.
À medida que os anos passaram, ia envelhecendo, mas todas as noites se sentava à entrada da sua casa, à espera do sinal de Deus. Pousava sempre ao seu lado a pequena caixa de sândalo, que tinha lá dentro as pedrinhas com as quais na sua infância jogava o hanacaleic. E, de vez em quando, abria pequenas poças na terra e, como na sua infância, brincava com as pedras do caleic.
Mas às vezes tinha medo da noite e sentia-se sozinho, como se Deus não o estivesse a ver. Então dizia: - Meu Deus, não me abandones. Vê-me.
E numa noite assim, quando ele se sentia tão cansado e tão só, mais uma vez levantou a cabeça e olhou para as estrelas. Então viu levantar-se do Oriente uma grande estrela claríssima e luminosa que, muito devagar, atravessava o céu. E o universo inteiro ficou mudo e atento. De súbito, uma voz altíssima cantou: - Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade. E o liurai viu na sua frente um jovem todo vestido de luz. E reconheceu que ele era o mensageiro de Deus, porque na sua cara brilhava uma alegria imensa.
E o jovem disse:
- Sou o Anjo de Timor. Alegra-te, liurai, porque o Deus que tanto tens esperado se fez homem e desceu hoje à terra. É uma criança recém-nascida e está deitado num curral de animais, em cima de um molho de palha. Mas todos os anjos lhe cantam louvor e em breve chegarão os pastores para o adorar. E dentro de poucos dias chegarão os três reis magos do Oriente, que vêm seguindo a estrela.
Eles, de joelhos, adorarão o Menino e cada um lhe há-de oferecer um presente. Gaspar traz uma caixa com oiro, Melchior uma caixa com mirra e Baltasar uma caixa com incenso.
- Quero ir com eles, exclamou o chefe timorense.
- É impossível. Belém fica tão longe que, nem que caminhasses a tua vida inteira, lá chegarias. - Então tu, anjo, que és mais rápido que o pensamento, leva o meu presente ao Menino. É uma caixa de sândalo que tem lá dentro as pedras com que eu brincava ao caleic quando era pequeno.
O Anjo tomou a caixa nas mãos e disse:
- Ainda bem que te lembraste de lhe mandar um brinquedo. Quando os reis magos chegarem a Belém, eu estarei com eles e poisarei a tua caixa em frente do Menino! Mal o Anjo desapareceu, o liurai encostou-se a um pilar da sua casa e adormeceu na paz do Senhor.
A partir de então, sempre que se celebra o Natal, o anjo de Timor ajoelhase ao lado dos reis magos, em frente ao presépio que há no céu, e oferece ao Menino o presente do velho liurai.
Este Natal, de novo, o Anjo de Timor se ajoelhou e ofereceu uma vez mais a caixa de sândalo e as pedras do caleic:
- Menino Deus, Príncipe da Paz, Deus todo Poderoso, lembra-Te do povo de Timor que por Ti foi confiado à minha guarda. Escuta as suas preces, vê o seu sofrimento. Vê como não cessam de Te invocar, mesmo no meio do massacre. Senhor, libertai-os do seu cativeiro, dai-lhes a paz, a justiça, a liberdade. Dai-lhes a plenitude da Vossa Graça.
Glória a Ti, Senhor!
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