Díli, 16 nov 2022 (Lusa) – A polícia timorense carregou hoje sobre centenas de jovens manifestantes que se tinham voltado a concentrar, pelo terceiro dia consecutivo, à frente do Parlamento Nacional em Díli, com várias pessoas detidas.
O protesto, que já se realizou durante três dias na semana passada e que coincide com o debate da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2023, intensificou-se esta semana, especialmente depois de críticas dos deputados à ação dos manifestantes.
Agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) já tinham detido na segunda-feira quase 40 pessoas, incluindo uma dezena de pessoas portadores de deficiência.
Inicialmente promovida pela Aliança Maubere Nacional e com muito menor dimensão, o protesto tem vindo a crescer, com a participação de jovens oriundos de várias universidades da cidade.
A lei impede que haja protestos a menos de 100 metros de órgãos de soberania e a alegada violação dessa norma terá justificado a ação policial de segunda-feira.
Hoje um grupo de cerca de duas centenas de jovens tentou novamente aproximar-se, pela estrada em frente ao Parlamento, onde foram impedidos de continuar por agentes da polícia.
Uma fila de agentes policiais com escudos e cassetetes, acabou por carregar sobre os manifestantes, obrigando os jovens a fugir em várias direções, incluindo para o interior do recinto da UNTL.
Agentes chegaram a entrar no recinto da Universidade, o que suscitou críticas mais fortes e mais tensão, com ainda mais jovens a juntarem-se ao protesto.
Mais de uma dezena de jovens foram detidos e transportados para a sede da PNTL em Díli, com a força policial a manter-se em vários pontos da zona para impedir a aproximação do parlamento.
Ainda que oficialmente tenha começado como um protesto contra a proposta compra de 30 novos carros para os deputados, a um custo total de 1,95 milhões de dólares, a manifestação traduz um descontentamento maior dos jovens.
Críticas ao que os jovens dizem ser “políticas de elite” que ignoram as necessidades básicas da população Os momentos de maior tensão viveram-se ao lado do parque que acolherá o futuro monumento da Chama Eterna, perto do Arquivo e Museu da Resistência Timorense (AMRT), uma das entradas para o recinto da UNTL e onde se juntaram mais jovens depois da carga.
No plenário, na terça-feira, o presidente do Parlamento Nacional voltou a contestar a ação, lamentando o barulho e chegando mesmo a dizer que ia dar instruções à Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) – algo para o que não tem competência - para atuar.
“Vou falar honestamente. O barulho chateia-nos. Vou dar instruções à PNTL para atuar de acordo com código penal 205, por perturbação do funcionamento de um órgão de soberania”, disse Aniceto Guterres Lopes.
Intervindo logo a seguir, o primeiro-ministro Taur Matan Ruak, que é também ministro do Interior, disse que tinha solicitado ao comando da PNTL para negociar com os manifestantes.
Antes, Aniceto Guterres Lopes, chegou mesmo a questionar se é necessário aprovar uma “nova lei de injúria”, afirmando que os manifestantes não podem violar a lei que impede protestos a menos de 100 metros de órgãos de soberania.
E chegou mesmo a considerar que a própria Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), à frente da qual decorre o protesto, “não deveria tolerar” a participação dos estudantes.
“A manifestação não é para insultar, para fazer acusações falsas”, disse.
“É urgente aprovar uma nova lei de injúria, não é difamação. É crime. Será que merece uma revisão código penal ou uma nova lei? Nós somos legisladores e temos que decidir”, afirmou.
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Lusa/Fim
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