Díli, 23 out 2022 (Lusa) – As autoridades timorenses detiveram este fim de semana o diretor de uma agência de viagens em Díli alegadamente relacionado com o caso de emigrantes de Timor-Leste abandonados em Portugal.
O homem, responsável da agência New Generation, foi detido por uma equipa conjunta policial e militar, com base num mandado de captura emitido pelo Tribunal Distrital de Díli, confirmaram à Lusa fonte policiais.
“Poderá haver mais detenções, já que as investigações estão a decorrer. O processo ainda está em curso”, disse à Lusa fonte policial.
"Temos equipas a investigar no terreno e que vão continuar a trabalhar", disse a mesma fonte.
A detenção ocorre no âmbito de uma operação mais ampla de investigação a empresas ou indivíduos que estejam ligados ao que as autoridades consideram ser redes de tráfico humano que estão envolvidas no envio de trabalhadores timorenses para Portugal.
A falta de trabalho em Timor-Leste está a provocar um êxodo de trabalhadores jovens, com Portugal a tornar-se um dos principais destinos, com muitos a aproveitarem-se de condições de entrada mais fáceis do que outros países.
Uma procura que está a levar ao aparecimento de agências e de anúncios a tentar enganar jovens timorenses, a quem são cobradas quantias avultadas com a promessa de trabalho ou vistos.
Muitos timorenses acabam por ser enganados, sendo depois deixados praticamente ao abandono nos países de acolhimento, incluindo Portugal. As situações mais dramáticas vivem-se em Lisboa e em Serpa, com muitos timorenses na rua e outros a viver em grupo em instalações temporárias.
As famílias acabam igualmente por ficar com pesadas dívidas às costas, com empréstimos ilegais concedidos a juros elevadíssimos.
Na semana passada as autoridades policiais e de investigação timorenses prometeram reforçar o controlo de emigrantes, no intuito de reduzir potenciais casos de tráfico humano, ao mesmo tempo que continuam investigações sobre as redes envolvidas.
A decisão foi anunciada depois de uma reunião na Presidência da República, promovida pela Casa Militar, e que envolveu a Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), a Polícia Científica de Investigação Criminal (PCIC), o Serviço Nacional de Inteligência (SNI), as Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), Imigração, o Serviço de Registo e Verificação Empresarial (SERVE) e a comissão de combate ao tráfico humano.
“As entidades ligadas à segurança, estivemos reunidas, no quadro das preocupações com a situação de cidadãos timorenses abandonados na Alemanha, Abu Dhabi [nos Emirados Árabes Unidos], Malásia e Portugal”, explicou aos jornalistas o major Francisco da Silva, chefe interino da Casa Militar.
“Temos informações de que no dia 27 há cerca de 250 timorenses que vão viajar para o estrangeiro. Perante as preocupações com este facto, convocámos as forças de segurança para debater ideias para lidar com esta questão. Vamos atuar para garantir que se cumpre a lei e todos os regulamentos, a partir de agora”, referiu.
O militar disse que as autoridades continuam a investigar “agências ilegais” envolvidas em potenciais casos de tráfico humano, que levaram a que “mais de cinco mil timorenses” estejam agora em situações “de abandono” ou com dificuldades no estrangeiro.
Também na semana passada, o Governo timorense aprovou um diploma com medidas para tentar agilizar ações de proteção de cidadãos timorenses no estrangeiro, no quadro de crescentes preocupações com emigrantes enganados por redes de tráfico humano.
Fidelis Magalhães, ministro da Presidência do Conselho de Ministros, disse à Lusa que o decreto-lei se insere num conjunto de medidas que o executivo está a tomar para lidar com a “grande preocupação” causada por timorenses enganados e abandonados no estrangeiro, predominantemente em Portugal.
“Durante a reunião do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro deu também uma instrução bem clara relativamente à necessidade de controlar as agências de viagens e indivíduos, porque sabemos que muitos estão ali a enganar pessoas, a venderem coisas falsas, informações falsas sobre oportunidades de trabalho fora do país”, disse Magalhães.
“Vemos que há pessoas que chegam a pagar cinco ou seis mil dólares [5.070 ou 6.080 euros] por essas viagens, sem ter confirmações corretas de que vai haver oportunidades. Alguns donos destas agências estão ali simplesmente a cobrar dinheiro e a enganar as pessoas”, sublinhou.
“O Governo deu instruções ao Ministério do Interior e às agências relevantes para investigar e acabar com esta prática. Estão a decorrer investigações e apelamos ao MP [Ministério Público] para ser mais proativo”, afirmou o ministro.
ASP // VQ
Lusa/Fim
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