Observador- Rita Pereira Carvalho - 04 de outubro de 2022
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa adiantou ainda que foi informado por Marcelo Rebelo de Sousa que o caso de encobrimento de abusos que aconteceram em 2011 fora enviado para a PGR.
As denúncias de abusos sexuais contra o antigo bispo Ximenes Belo foram divulgadas na semana passada e, esta segunda-feira, José Ornelas, bispo da Diocese de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, sublinhou que não sabia do caso antes de serem noticiados.
Ao recordar que encontrou Ximenes Belo em várias visitas que fez e que foram colegas enquanto estudaram teologia, José Ornelas referiu, em entrevista à TVI, que “pensava que o conhecia”.
"É para mim uma tristeza muito grande. Duplamente grande. Penso nele, penso nas vítimas dele e penso que aquilo que estas vitimas significam, e é precisamente a negação daquilo que nós queremos ser.”
Tal como o Observador avançou na semana passada, a igreja católica em Portugal tinha conhecimento do caso de Ximenes Belo, pelo menos, há 12 anos. Questionado sobre esta data, José Ornelas negou ter conhecimento das histórias em 2010, justificando ainda que estava em Roma nessa altura.
Já sobre o caso que foi denunciado este fim de semana, sobre o encobrimento de um caso que aconteceu em 2011 e que está relacionado com abuso sexual de menores num orfanato numa cidade da província de Zambézia, em Moçambique, liderado pelo padre Luciano Cominotti, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa seguiu a mesma linha e negou ter escondido qualquer informação.
No entanto, a TVI teve acesso às cartas de resposta ao denunciante, escritas por José Ornelas. “Agradeço os alertas que você lança em relação qualquer eventual abuso de menores, embora em relação aos nomes por si mencionados nada de concreto tenha sido notado“, escreveu em março de 2011. E mais: “Este é um ponto que procuramos ter sempre sob vigilância e continuará a ser objeto da maior atenção”.
O bispo terá tido conhecimento dos abusos, depois de ter sido informado por João Oliveira, professor de português na escola frequentada pelos alunos daquele orfanato, dirigida pelo Padre Ilario Verri, também parte da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (dehonianos), na altura dirigida por José Ornelas. Ainda assim, na entrevista desta segunda-feira, voltou a dizer: “Nunca ouvi”.
“Eu perguntei e disse para investigar. A resposta é que, daquilo que diz respeito à nossa obra, nada foi indicado“, disse José Ornelas, descartando assim qualquer responsabilidade em relação ao caso, reconhecendo, no entanto, que “estas situações não deviam acontecer em ambientes de igreja”.
"Eu procedi moralmente e legalmente segundo a informação que eu tinha.”
O bispo da Diocese de Leiria-Fátima avançou ainda que, em relação a este caso, recebeu um telefonema de Marcelo Rebelo de Sousa. “Disse-me que tinha mandado para a Procuradoria-geral da República.”
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa pediu ainda perdão às crianças vítimas de abusos sexuais por parte de padres da Igreja Católica. “Eu peço sempre desculpa a estas pessoas, sempre que falo disto. Não é desculpa, é precisamente perdão a estas pessoas. Porque estas pessoas foram abusadas onde menos deviam ter sido”, disse, assegurando que os padres visados “serão excluídos do ministério da igreja se são condenados por pedofilia”.
Foto, Lusa.
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