segunda-feira, 11 de abril de 2022

Lú-Olo ausente do seu comício em Díli, na reta final da campanha


Díli, 10 abr 2022 (Lusa) – O Presidente timorense e candidato presidencial Francisco Guterres Lú-Olo esteve hoje ausente do grande comício da campanha em Díli, num encontro com menos militantes que na primeira volta e onde discursaram dirigentes de várias forças políticas.

“O Presidente Lú-Olo estava realmente chocado com as referências que Xanana Gusmão fez à sua figura e eu sugeri que ficasse em casa”, explicou à Lusa Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), um dos partidos que apoia a recandidatura de Lú-Olo.

“Xanana Gusmão chamou-lhe de quase analfabeto. Ele queria vir para responder e eu sugeri que não”, afirmou.

Apesar do menor número de militantes no comício de Díli, Alkatiri mostrou-se confiante na vitória na segunda volta, marcada para 19 de abril, saudando o apoio dos três partidos atualmente no Governo, a Fretilin, o Partido Libertação Popular (PLP) e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

“Agora posso dizer que ganhamos. A diferença acabou a partir do momento em que há segunda volta. Eles trabalharam para ganhar na primeira volta porque sabiam que a segunda volta seria complicada para eles. E está a ser complicado para eles”, disse Alkatiri.

Marcante na segunda volta da campanha tem estado a questão dos grupos de artes marciais e artes rituais, com a candidatura do ainda chefe de Estado a fazer váriaa promessas de apoios, incluindo na construção de sedes e locais de treino.

“As artes marciais em qualquer parte do mundo não são identificadas como artes violentas. E o que temos que fazer é transformar essas pessoas marginalizadas, marginalizadas por entendimento errado, e mostram que são parte da sociedade, e para isso é preciso que sejam enquadradas”, explicou Alkatiri à Lusa.

No palco esteve ainda o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, que comprometeu o apoio do seu partido, o PLP, à campanha de Lú-Olo e que voltou a aproveitar o discurso para fazer várias promessas do Governo, que, garante, só poderão ser implementadas se o atual Presidente vencer.

À Lusa disse estar “muito confiante”, explicando que as promessas visam “inspirar confiança nas pessoas de que este Governo está determinado em avançar”, em oposição à perspetiva, se Ramos-Horta vencer, da dissolução do parlamento ou queda do Governo.

“E não somos só os três, veja o número de pessoas que arrastamos para se juntar a nós. Comparo isto com 1999, o referendo, isto vai determinar o futuro de Timor-Leste e a estabilidade política e governativa”, disse.

Um comício muito mais pequeno do que o da primeira volta, no mesmo local, e que marca a última grande ação de campanha de Lú-Olo em Díli, antes de outros encontros previstos para Ainaro e Liquiçá e do debate a 13 de abril.

Ausente esteve também José Naimori, o líder máximo do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), o outro partido do Governo, sendo evidente a ausência total de bandeiras daquela força política.

Marito Magno, conselheiro nacional do partido, subiu ao palco para explicar que as atenções do KHUNTO se vão concentrar no comício de Ainaro, na segunda-feira, onde espera ter “20 mil pessoas” e ainda em ações de informação, porta a porta, já a decorrer.

O comício começou mais tarde do que o previsto – chegou a estar marcado para as 10:00, depois para as 14:00 e finalmente só arrancou depois das 15:30 –, com a agenda a ser afetada pelas muitas missas de Domingo de Ramos que hoje levaram a população do país às igrejas.

Na tribuna de honra havia mais militantes de outros partidos do que da Fretilin, com intervenções de responsáveis do PLP, KHUNTO, Frente Mudança e Os Verdes.

O responsável da campanha, José Manuel Fernandes, abriu os discursos políticos, apelando ao voto em Lú-Olo que considerou “um candidato nacional”, em quem a população “deposita a confiança” de que a estabilidade política continuará.

“Votar em Lú-Olo significa não apoiar o candidato que quer dissolver o parlamento, criar uma nova crise em Timor-Leste e provocar eleições antecipadas. Esta é a outra alternativa: vamos votar juntos pelo trabalho conjunto com o Governo”, disse.

Depois foi a vez de Taur Matan Ruak, que listou um conjunto de promessas eleitorais que, garante, o Governo vai implementar com o “apoio de Lú-Olo”.

Prometeu mais dinheiro para idosos, internet nas escolas, bolsas de estudo para os melhores alunos, cestas básicas para a população, um ‘13.º mês’ de 200 dólares para cada família, obras públicas, sedes para as artes marciais e uma nova secretaria de Estado para os Assuntos dos Trabalhadores no estrangeiro.

“É um bom plano, mas para isso preciso da vossa ajuda. Temos que eleger Lú-Olo”, disse, deixando críticas a José Ramos-Horta, vencedor da primeira volta.

“Se querem uma família forte têm que votar no número 2 [no boletim de voto] porque tem primeira-dama e o número 1 não tem primeira-dama. A família forte tem que ser com os dois. Sem famílias fortes não podemos ter um país forte”, disse.

Oficialmente, na Constituição e leis timorenses, não existe a figura de primeira-dama – em parte por oposição da Fretilin aquando da feitura da Constituição.

A própria mulher de Taur Matan Ruak, Isabel Ferreira, que fez da família uma das suas principais plataformas na primeira volta, quando foi uma das 16 candidaturas concorrentes, já anunciou que apoia José Ramos-Horta na segunda volta.

Taur Matan Ruak referiu-se ainda à “consistência” de Lú-Olo, que sempre foi da Fretilin, ao contrário de José Ramos-Horta que entrou e saiu do partido, criticando a sua anterior Presidência, entre 2007 e 2012, em que “foi o Presidente da corrida de bicicleta”, numa referência ao Tour de Timor, iniciado pelo Nobel da Paz.

As ações públicas de campanha terminam a 13 de abril, três dias antes do previsto devido à Páscoa, com a votação marcada para 19 de abril.

ASP // JH

Lusa/Fim

Foto daqui.

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