Díli, 20 jan (Lusa) - A Confederação Asiática de Futebol (CAF) suspendeu Timor-Leste da edição de 2023 da Taça Asiática depois de uma investigação comprovar que a federação timorense utilizou 12 jogadores brasileiros com documentos falsos que alegavam ser timorenses.
Em comunicado a CAF explica que a decisão foi tomada na reunião de hoje do Comité Disciplinar da CAF - que decorreu em Kuala Lumpur, na Malásia - depois de uma investigação iniciada em junho do ano passado sobre o uso de jogadores brasileiros durante o período de qualificação para a edição de 2019 da Taça Asiática.
Além de impedir Timor-Leste de participar na qualificação para a edição de 2023 do troféu a federação timorense terá que pagar uma multa de 20 mil dólares.
O secretário-geral da federação de Timor-Leste, Amândio de Araújo Sarmento, foi banido durante três anos de atividades relacionadas com o futebol e condenado a uma multa de 9 mil dólares.
Um outro responsável, Gelásio Da Silva Carvalho, foi multado em três mil dólares por tentar interferir com a investigação.
Até ao momento não foi possível à Lusa contactar qualquer responsável da federação timorense.
A agência Lusa noticiou em dezembro que se antecipava para breve uma decisão da CAF depois de uma investigação que comprovou que os jogadores brasileiros foram registados na seleção com certidões de nascimento ou de batismo falsas que alegavam que um ou ambos os pais tinham nascido em Timor-Leste.
"Verificou-se que esses elementos foram falsificados", refere um comunicado da CAF que explica que "a investigação não permitiu qualquer conclusão sobre a validade da cidadania de Timor-Leste detida por esses futebolistas" sendo que essa "é uma questão para as autoridades de Timor-Leste".
Nove dos jogadores brasileiros em causa participaram em 29 jogos sob jurisdição da CAF, nomeadamente na qualificação para a Taça Asiática de 2019 (em que Timor-Leste foi afastado) e em sete jogos sob jurisdição da FIFA, nomeadamente de qualificação para o Mundial de 2018 (também afastado).
O Comité Disciplinar da CAF determinou agora que a Federação de Futebol de Timor-Leste (FFTL) perdeu esses 29 jogos, aplicando uma multa adicional de 56 mil dólares suspensa durante um período probatório de dois anos.
"A decisão da Comissão Disciplinar da CAF foi notificada à FFTL. A FIFA foi instada a ampliar os efeitos da decisão contra Amândio para que tenha efeitos a nível mundial, notificando o facto de a FFTL ter utilizado jogadores inelegíveis em sete jogos da FIFA", explica.
Esta investigação da CAF soma-se a uma outra sobre o mesmo caso iniciada em 2015 pela FIFA e cujos resultados não são ainda conhecidos, tendo o assunto sido igualmente alvo de um inquérito do executivo timorense.
Sem liga nacional há vários anos, Timor-Leste subiu, entre 2011 e 2015, no 'ranking' da FIFA do 205.º para o 170.º posto, sendo atualmente o 191.º, posição que deverá ser afetada por esta decisão.
A maior subida ocorreu quando Timor-Leste se tentou qualificar para o Mundial de 2018 na Rússia, tendo para isso naturalizado mais de uma dezena de jogadores oriundos do Brasil.
As regras da FIFA determinam que os atletas podem jogar pela seleção do país adotivo se ali viveram pelo menos cinco anos ou se tiverem um pai ou avô natural desse país, o que não ocorreu em nenhum dos casos dos brasileiros naturalizados timorenses, segundo fontes futebolísticas em Díli.
Os bons resultados de Timor-Leste começaram a ser questionados em outubro de 2015, quando a federação da Palestina apresentou uma queixa formal junto da FIFA depois de um empate entre as duas seleções, em Díli, na qualificação para o Mundial de 2018.
Esse empate impediu a qualificação da Palestina e, depois da queixa, os brasileiros deixaram de ser usados. No primeiro jogo sem esses jogadores, com os Emirados Árabes Unidos, a seleção de Timor-Leste teve a sua maior derrota de sempre (perdeu 8-0).
No entanto o uso dos jogadores foi retomado em junho último, na qualificação para a Taça Asiática, levando a CAF a iniciar uma investigação.
Esta não é a única polémica em torno do futebol timorense, tendo Francisco Kalbuadi Lay, presidente da FFTL, sido envolvido na polémica em torno dos alegados subornos pagos por Mohamed Bin Hammam, do Qatar, para conseguir levar o Mundial para aquele país.
Uma auditoria da PWC sobre a CAF e as contas de Hamman indica que terá dado cerca de 50 mil dólares a Kalbuadi Lay para "gastos pessoais".
Além desta polémica, um empresário timorense, Pedro Carrascalão, queixou-se à CAF por os líderes da FFTL recusarem aceitar a sua eleição como presidente da estrutura, no congresso de 2007. Na queixa, alega terem ocorrido nos últimos anos inúmeras irregularidades em torno da FFTL.
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Lusa/Fim
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