segunda-feira, 25 de abril de 2016

Permanecem as incertezas em torno ao comando das forças de Defesa timorenses

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Díli, 25 abr (Lusa) - Descontentamento entre alguns dos veteranos, dúvidas sobre o processo formal de transição e críticas do atual comando estão a marcar o processo de transição na liderança das forças de defesa de Timor-Leste (-FFDTL), adiado desde outubro de 2015.

Fontes das F-FDTL, do Governo, do Parlamento e da Presidência do Governo ouvidas pela Lusa nas últimas semanas confirmam a tensão em torno a este processo, que dividiu as forças políticas e as instituições do país.

Desde setembro do ano passado, quando terminaram os mandatos dos atuais comandantes das F-FDTL, o Presidente da República, Taur Matan Ruak, já anunciou duas decisões diferentes, ambas polémicas, apesar de nenhuma ainda ter sido formalmente aplicada.

A 09 de fevereiro, Taur Matan Ruak anunciou ter decidido exonerar o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), o major-general Lere Anan Timur, promovendo como seu sucessor o brigadeiro-general Filomeno da Paixão de Jesus, até então número dois.

A decisão acabou por não ser concretizada porque ia contra a proposta do Governo - que defendia a extensão do mandato de ambos - causando tensão entre a Presidência, o executivo e o Parlamento Nacional e levando mesmo a recursos do Governo para o Tribunal de Recurso, que foram rejeitados.

Taur Matan Ruak nunca formalizou a decisão e recebeu este mês nova proposta do Governo, a de nomear o capitão-de-mar-e-guerra Donaciano Gomes (Pedro Klamar Fuik) como chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) e o coronel Calisto dos Santos (Coliati), como vice-CEMGFA.

Uma decisão conjunta do Governo e da Presidência que marcava uma "transição geracional" completa nas F-FDTL, apesar de Taur Matan Ruak reiterar que preferia "uma transição mais gradual".

Apesar do aparente consenso, dez dias depois da decisão continua sem haver data para a tomada de posse.

A 15 de abril, a Presidência explicou que "os pormenores relativos à promoção destes oficiais, bem como do chefe do Estado-Maior das F-FDTL e dos comandantes das Componentes, à promoção honorífica e saída dos oficiais atualmente em funções para a reforma e à organização da cerimónia oficial estão ainda a ser finalizados entre os serviços da Presidência da República e do Governo".

O assunto poderá ser hoje analisado na reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, que decorre na Presidência.

Lere, que aquando da primeira decisão, praticamente não a comentou, tornou-se agora uma das vozes mais críticas da opção do seu comandante supremo.

Em declarações a jornalistas timorenses afirmou que não aceita abandonar o cargo, que não concorda com a decisão e, em privado, garante que vai continuar no cargo mais dois anos, pelo menos.

Outras vozes no seio das F-FDTL questionam a transição geracional demasiado rápida na estrutura de comando de uma organização militar ainda muito ligada ao historial das forças de resistência à ocupação indonésia, as Falintil.

Questões sobre a capacidade de liderança de Klamar Fuik, que tem menos antiguidade que o seu número dois, Coliati, e até sobre o papel que o antigo comandante do componente naval teve durante a crise política de 2006 marcam o debate entre os veteranos timorenses.

Politicamente todo este processo decorre num cenário de tensão também entre alguns dos principais líderes do país, nomeadamente depois das críticas de Taur Matan Ruak a Xanana Gusmão, atual ministro e líder histórico da resistência, e ao líder da Fretilin, Mari Alkatiri.

Timor-Leste tem marcadas eleições legislativas em 2017 e, tudo indica, Taur Matan Ruak poderá candidatar-se a primeiro-ministro, apoiado pela nova formação política registada no ano passado, o Partido de Libertação do Povo (PLP).

ASP // MP

Lusa/Fim
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