Foto de: Presidência da República de Timor-Leste |
Díli, 25 fev (Lusa) - O Presidente da República timorense comparou hoje os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão e Mari Alkatiri têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto, numa intervenção no Parlamento Nacional.
"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", afirmou.
"O irmão Xanana [ex-primeiro-ministro e atual ministro] toma conta de Timor, o irmão Mari [também antigo primeiro-ministro] toma conta de Oecusse. Eu fico triste. E este vírus está a espalhar-se. O principio básico da democracia é a confiança. Sem isso a democracia não funciona", disse Taur Matan Ruak.
Intervindo a seu pedido no Parlamento Nacional, num momento de crise política em Timor-Leste, Taur Matan Ruak recordou um diálogo do início deste mês com o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo.
"Eu lamentei que familiares e amigos do irmão Xanana e do irmão Mari tenham beneficiado tanto dos contratos do Estado. O senhor primeiro-ministro perguntou-me se eu queria fazer inspeção", disse.
"Eu disse-lhe que não. Que estava apenas a falar do descontentamento que se sentia sobre os privilégios. Com o Suharto também acontecia", disse.
Taur Matan Ruak falava no plenário do Parlamento Nacional, a seu pedido, numa altura em que Timor-Leste vive uma crise política em torno da decisão do Presidente da República (PR) sobre o comando das forças de Defesa (F-FDTL), que não seguiu a proposta do Governo, o qual defendia a renovação do mandato de Lere Anan Timur.
"Eu não tenho problemas com o Governo. Mas o Governo usa o argumento do Lere [Anan Timur] para atingir o PR. O Presidente continua disponível para discutir no Parlamento Nacional para encontrar uma solução para o caso. O PR não quer ser adversário, quer ser parceiro. Pautei o meu comportamento por este princípio", disse ainda.
"Não quero uma sociedade na base do poder e dos privilégios. Essa sociedade, aqui e noutros sítios, tem os dias contados", afirmou.
Taur Matan Ruak afirmou que Xanana Gusmão e Mari Alkatiri têm hoje uma "relação de cumplicidade total", que se reflete a nível das respetivas forças políticas, CNRT e Fretilin, no Parlamento.
Mas, considerou, essa unanimidade não serviu para resolver os problemas do país.
"O Estado de Timor-Leste leste é excessivamente centralizador. Centraliza competências, poderes e privilégios. Excessivamente esbanja recursos. E cria cidadãos de primeira e de segunda classe", afirmou.
Numa intervenção de menos de 30 minutos, sem discurso escrito, defendeu a sua opção de alterar o comando das forças de Defesa, mas a maior parte do discurso foi dirigido a alguns líderes políticos e aos deputados que há vários anos aprovam os orçamentos do Estado por unanimidade, acusando-os de serem "cúmplices do esbanjamento do Estado".
"Tanto dinheiro nestes projetos. E as escolas, a agricultura, a saúde sem condições. O Parlamento Nacional permite este esbanjamento", disse.
Criticando projetos que "gastaram milhões para nada", acusou também o Governo de não apresentar estudos de viabilidade para grandes planos com o do desenvolvimento do sul de Timor (Tasi Mane) e o do enclave de Oecusse, liderado por Mari Alkatiri.
Matan Ruak voltou a defender o seu veto ao Orçamento do Estado para este ano, "não como desafio à unanimidade" mas por um "sentimento genuíno de promover e ajudar o povo".
Em relação ao comando das forças de Defesa, Taur Matan Ruak disse que atuou pensando na transição do país "de um Estado de Ordem para um Estado de lei", acusando o Governo de não dar outra opção para solucionar o problema.
Dirigindo-se à população, Taur Matan Ruak saudou a "serenidade" com que acompanharam nas últimas semanas esta polémica e agradeceu aos militares pelo "comportamento".
"Mantenham-se assim, Timor precisa de vocês assim. A paz e estabilidade, uma democracia forte, são essenciais para o futuro de Timor", disse.
Na quarta-feira, o Governo timorense avançou com uma providência cautelar e um recurso contencioso para anular a decisão do PR de exonerar o chefe das forças de Defesa.
ASP // MP
Lusa/Fim
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"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", afirmou.
"O irmão Xanana [ex-primeiro-ministro e atual ministro] toma conta de Timor, o irmão Mari [também antigo primeiro-ministro] toma conta de Oecusse. Eu fico triste. E este vírus está a espalhar-se. O principio básico da democracia é a confiança. Sem isso a democracia não funciona", disse Taur Matan Ruak.
Intervindo a seu pedido no Parlamento Nacional, num momento de crise política em Timor-Leste, Taur Matan Ruak recordou um diálogo do início deste mês com o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo.
"Eu lamentei que familiares e amigos do irmão Xanana e do irmão Mari tenham beneficiado tanto dos contratos do Estado. O senhor primeiro-ministro perguntou-me se eu queria fazer inspeção", disse.
"Eu disse-lhe que não. Que estava apenas a falar do descontentamento que se sentia sobre os privilégios. Com o Suharto também acontecia", disse.
Taur Matan Ruak falava no plenário do Parlamento Nacional, a seu pedido, numa altura em que Timor-Leste vive uma crise política em torno da decisão do Presidente da República (PR) sobre o comando das forças de Defesa (F-FDTL), que não seguiu a proposta do Governo, o qual defendia a renovação do mandato de Lere Anan Timur.
"Eu não tenho problemas com o Governo. Mas o Governo usa o argumento do Lere [Anan Timur] para atingir o PR. O Presidente continua disponível para discutir no Parlamento Nacional para encontrar uma solução para o caso. O PR não quer ser adversário, quer ser parceiro. Pautei o meu comportamento por este princípio", disse ainda.
"Não quero uma sociedade na base do poder e dos privilégios. Essa sociedade, aqui e noutros sítios, tem os dias contados", afirmou.
Taur Matan Ruak afirmou que Xanana Gusmão e Mari Alkatiri têm hoje uma "relação de cumplicidade total", que se reflete a nível das respetivas forças políticas, CNRT e Fretilin, no Parlamento.
Mas, considerou, essa unanimidade não serviu para resolver os problemas do país.
"O Estado de Timor-Leste leste é excessivamente centralizador. Centraliza competências, poderes e privilégios. Excessivamente esbanja recursos. E cria cidadãos de primeira e de segunda classe", afirmou.
Numa intervenção de menos de 30 minutos, sem discurso escrito, defendeu a sua opção de alterar o comando das forças de Defesa, mas a maior parte do discurso foi dirigido a alguns líderes políticos e aos deputados que há vários anos aprovam os orçamentos do Estado por unanimidade, acusando-os de serem "cúmplices do esbanjamento do Estado".
"Tanto dinheiro nestes projetos. E as escolas, a agricultura, a saúde sem condições. O Parlamento Nacional permite este esbanjamento", disse.
Criticando projetos que "gastaram milhões para nada", acusou também o Governo de não apresentar estudos de viabilidade para grandes planos com o do desenvolvimento do sul de Timor (Tasi Mane) e o do enclave de Oecusse, liderado por Mari Alkatiri.
Matan Ruak voltou a defender o seu veto ao Orçamento do Estado para este ano, "não como desafio à unanimidade" mas por um "sentimento genuíno de promover e ajudar o povo".
Em relação ao comando das forças de Defesa, Taur Matan Ruak disse que atuou pensando na transição do país "de um Estado de Ordem para um Estado de lei", acusando o Governo de não dar outra opção para solucionar o problema.
Dirigindo-se à população, Taur Matan Ruak saudou a "serenidade" com que acompanharam nas últimas semanas esta polémica e agradeceu aos militares pelo "comportamento".
"Mantenham-se assim, Timor precisa de vocês assim. A paz e estabilidade, uma democracia forte, são essenciais para o futuro de Timor", disse.
Na quarta-feira, o Governo timorense avançou com uma providência cautelar e um recurso contencioso para anular a decisão do PR de exonerar o chefe das forças de Defesa.
ASP // MP
Lusa/Fim
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