Em nome dos membros do Timor Hau Nian Doben, eu venho desejar um Bom Natal aos nossos queridíssimos leitores.
Nesta quadra natalícia, que o verdadeiro espírito do Natal esteja presente dentro dos nossos corações, para que, não nos esqueçamos que muitas pessoas espalhadas por todo o mundo, celebram o nascimento de Jesus Cristo com fome, sem-abrigo e a sofrer, entre estas pessoas encontram-se milhares de timorenses - nossos irmãos.
Aproveito também para agradecer aos queridos leitores as visitas que nos fizeram e também o apoio à nossa nova página no Facebook que é, modéstia à parte, um sucesso!
Deixo-vos aqui uma prendinha ;), um conto de Sophia de Mello Breyner Andresen muito bonito e peço que rezem comigo a oração que Sophia tão bem escreveu, dedicada a este povo heroico, nobre, mas que continua a sofrer tanto. Obrigada pelo livro, André!
Feliz Natal, senhores leitores! Beijos e abraços para todos vocês.
Feliz Natal, senhores leitores! Beijos e abraços para todos vocês.
Zizi Pedruco
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Sophia de Mello Breyner Andresen in, "O Anjo de Timor"
Há muitos, muitos anos, em Timor, vivia um liurai muito poderoso e muito bom. Na sua juventude, resolveu ir correr mundo, para se tornar mais sábio.
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Foto de Zizi Pedruco |
Há muitos, muitos anos, em Timor, vivia um liurai muito poderoso e muito bom. Na sua juventude, resolveu ir correr mundo, para se tornar mais sábio.
Foi viajando de barco, de ilha em ilha, até chegar a uma terra distante. Ali,
um dia, conheceu um mercador vindo de muito longe, dos países do lado do
poente, e que também ele andava há longos anos em viagem.
Esse mercador contou-lhe que, na sua viagem, tinha ouvido contar que,
ainda muito mais longe, para além das montanhas, oceanos e dos imensos desertos
de areia, vivia um povo que adorava um Deus único e todo-poderoso,
criador de todas as coisas e do próprio homem. Acredita que o seu Deus, um
dia, descerá à Terra para salvar todos os homens.
- Quero ir ao país onde mora esse povo - disse o timorense.
- Quero ouvir
mais notícias do Deus que um dia descerá dos céus e viverá entre nós.
- Ai, é impossível - respondeu o mercador.
- Esse país fica tão longe que,
mesmo se viajasses a tua vida inteira, não conseguirias lá chegar.
E assim ficaram falando toda a noite, mas, no dia seguinte, o mercador
partiu de barco para a sua terra. Quando o barco desapareceu ao longe, o liurai
pensou:
- Já vi tantos lugares e tantos povos, mas não posso encontrar o povo que
adora o Deus único, porque, mesmo que viajasse a vida inteira, não conseguiria
lá chegar. Por isso, de que me serve viajar mais?
E voltou para a sua terra.
Foi uma viagem longa, comprida e difícil. Quando chegou à sua casa era
alta noite e já todos dormiam. Estava tão cansado que, mal entrou, adormeceu
estendido no chão. E enquanto dormia, ouviu em sonhos uma voz que lhe disse
que esperasse, esperasse sempre, pois um dia, a meio da noite, Deus lhe mandaria
um sinal.
Na manhã seguinte, a família do liurai recebeu-o com grande alegria, porque
a viagem durara anos e anos, e já ninguém sabia se ele era vivo ou morto.
Os seus pais mandaram chamar parentes e amigos e nessa tarde todos cantaram
e dançaram para festejar o seu regresso. Mas quando todos partiram e os
que moravam com ele adormeceram, o liurai foi-se sentar à porta da sua casa, à espera do sinal de Deus. Ali ficou, mudo e atento, e só depois do meio da noite
foi dormir.
Daí em diante, foi sempre assim.
Durante o dia, o liurai encontrava-se com
os seus amigos e parentes e presidia à vida e aos trabalhos da população. Era
um chefe amado e respeitado, porque era bom, justo e sábio.
Mas à noite, quando todos tinham adormecido, sentava-se de novo sozinho,
à porta da sua casa, à espera de um sinal de Deus. Escutava os barulhos
da noite, o suspiro do vento nas árvores, a voz do mar ao longe, respirava os
perfumes da noite - cheiro da terra, aroma das flores, aroma do sândalo, cheiro
distante do mar. Olhava sem fim o brilho das estrelas.
À medida que os anos passaram, ia envelhecendo, mas todas as noites se
sentava à entrada da sua casa, à espera do sinal de Deus. Pousava sempre ao
seu lado a pequena caixa de sândalo, que tinha lá dentro as pedrinhas com as
quais na sua infância jogava o hanacaleic.
E, de vez em quando, abria pequenas poças na terra e, como na sua infância,
brincava com as pedras do caleic.
Mas às vezes tinha medo da noite e sentia-se sozinho, como se Deus não
o estivesse a ver. Então dizia:
- Meu Deus, não me abandones. Vê-me.
E numa noite assim, quando ele se sentia tão cansado e tão só, mais uma
vez levantou a cabeça e olhou para as estrelas. Então viu levantar-se do Oriente
uma grande estrela claríssima e luminosa que, muito devagar, atravessava o
céu.
E o universo inteiro ficou mudo e atento. De súbito, uma voz altíssima cantou:
- Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade.
E o liurai viu na sua frente um jovem todo vestido de luz. E reconheceu
que ele era o mensageiro de Deus, porque na sua cara brilhava uma alegria
imensa.
E o jovem disse:
- Sou o Anjo de Timor. Alegra-te, liurai, porque o Deus que tanto tens
esperado se fez homem e desceu hoje à terra. É uma criança recém-nascida e
está deitado num curral de animais, em cima de um molho de palha. Mas todos os anjos lhe cantam louvor e em breve chegarão os pastores para o adorar. E
dentro de poucos dias chegarão os três reis magos do Oriente, que vêm seguindo
a estrela.
Eles, de joelhos, adorarão o Menino e cada um lhe há-de oferecer
um presente. Gaspar traz uma caixa com oiro, Melchior uma caixa com
mirra e Baltasar uma caixa com incenso.
- Quero ir com eles, exclamou o chefe timorense.
- É impossível. Belém fica tão longe que, nem que caminhasses a tua vida
inteira, lá chegarias.
- Então tu, anjo, que és mais rápido que o pensamento, leva o meu presente
ao Menino. É uma caixa de sândalo que tem lá dentro as pedras com que
eu brincava ao caleic quando era pequeno.
O Anjo tomou a caixa nas mãos e disse:
- Ainda bem que te lembraste de Lhe mandar um brinquedo. Quando os
reis magos chegarem a Belém, eu estarei com eles e poisarei a tua caixa em
frente do Menino!
Mal o Anjo desapareceu, o liurai encostou-se a um pilar da sua casa e
adormeceu na paz do Senhor.
A partir de então, sempre que se celebra o Natal, o anjo de Timor ajoelhase
ao lado dos reis magos, em frente ao presépio que há no céu, e oferece ao
Menino o presente do velho liurai.
Este Natal, de novo, o Anjo de Timor se ajoelhou e ofereceu uma vez mais
a caixa de sândalo e as pedras do caleic:
- Menino Deus, Príncipe da Paz, Deus todo Poderoso, lembra-Te do povo
de Timor que por Ti foi confiado à minha guarda. Escuta as suas preces, vê o
seu sofrimento. Vê como não cessam de Te invocar, mesmo no meio do massacre.
Senhor, libertai-os do seu cativeiro, dai-lhes a paz, a justiça, a liberdade.
Dai-lhes a plenitude da Vossa Graça.
Glória a Ti, Senhor!
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