segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Escolas Timorenses de Referência: Modelo para todo o Timor-Leste. Mas há boicote sistemático

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José Ramos Horta - Facebook

Cerca de cinco mil crianças Timorenses estão a beneficiar de uma educação de qualidade que se pode dizer, equiparada às escolas em Portugal.

As Escolas de Referência, um projeto iniciado em 2009, já estão a operar em todos os 13 Distritos de Timor-Leste. Foi rebatizado de Centro de Aprendizagem e Formação Escolar, CAFE.

As crianças vêm de famílias simples e pobres. Mas como acontece com a muito procurada Escola Portuguesa "Ruy Cinatti" de Dili, há imensa procura e longas são as filas de espera de pais ansiosos por inscrever seus filhos nessas escolas, as CAFE e a "Ruy Cinatti". A procura é grande, o espaço limitado, o número de professores Portugueses manifestamente insuficiente.

As duas últimas unidades escolares do projeto CAFE a entrarem em funcionamento são as de Ainaro e Viqueque que abriram as portas este ano.

Neste momento o total de alunos inscritos nas 13 Escolas de Referência é de 4968 assim distribuídos: Pré-escolar, 1517; 1º ciclo, 2485; 2º ciclo, 966. No próximo ano letivo haverá o 3º ciclo.

São cerca de 130 os professores portugueses que lecionam nessas escolas, auferindo salário irrisório e vivendo em condições precárias. Muito triste como tratamos esses agentes de ensino, vindos de tão longe, deixando para trás as suas terras, casas, famílias e amigos, o conforto de Portugal.

Um número igual de professores Timorenses deveria estar a apoiar e a aprender com os seus colegas Portugueses. Mas infelizmente o Ministério de Educação de TL não tem sido capaz de providenciar um número adequado de professores Timorenses para acompanhar os colegas Portugueses.

Neste momento apenas 33 Professores Timorenses estão a beneficiar desta oportunidade única de se colarem aos seus colegas Portugueses e com eles aprender os melhores métodos e práticas de ensino.
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Os Professores portugueses ganham um complemento de US$1000 (Mil) mensais, uma soma irrisória tendo em consideração os elevados custos de vida em TL assim como as condições de isolamento e de muita precariedade do dia a dia.

A agravar a situação, o Ministério de Educação, por negligência, ou por má vontade, ou pelas duas, negligência e má vontade, nunca honra atempadamente os compromissos que o Estado Timorense assumiu para com os professores - pagar prontamente os vencimentos.

Apesar de que este drama é do conhecimento do Sr. Primeiro Ministro Rui Araujo e das promessas públicas feitas pelo Primeiro Ministro, os atrasos nos pagamentos do complemento dos professores Portugueses continuam, na ordem de 4 meses.

O Pais parece ter dinheiro para pagar salários generosos de mínimo $3 mil até $10 mil/mês para os muitos Assessores nacionais com qualificações dúbias. E arranjamos desculpas administrativas para não honramos os compromissos que assumimos com esses trabalhadores honestos e dedicados que vêm de tão longe, deixando as suas terras e famílias.

Parece que não sabemos acarinhar os nossos amigos, aqueles que estiveram conosco ao longo dos anos difíceis da nossa luta.

Parece que alguns esquecem e tentam fazer outros esquecer a contribuição impar de Portugal na nossa libertação. E mais grave do que não sabermos acarinhar os nossos verdadeiros amigos, a negligência, ou boicote sistemático, do projeto CAFE, rouba a milhares de crianças Timorenses de famílias simples, uma educação de muita qualidade, e nega-lhes um futuro melhor.

As Escolas CAFE e a Escola Portuguesa Ruy Cinatti, aliadas às escolas da Igreja, garantem uma educação de qualidade enquanto o nosso Estado, por razões compreensíveis, não consegue elevar o nível dos nossos professores nas Escolas públicas.

Tomo a liberdade de transcrever uma mensagem que recebi de uma professora do projeto de Escolas CAFE:

"Peço desculpa por o abordar desta forma e sobre um assunto já repetido, mas como em Julho passado, fez eco da situação dos professores Timorenses e portugueses a trabalharem no projeto CAFE, tomei a liberdade de me dirigir a V. Exci., pois vi que foi sensível ao assunto. Mais a vez os complementos que devíamos receber em Timor estão atrasados e em vésperas de fim da ano letivo podemos ir para Portugal sem recebermos os mesmos. Falo por mim , estou longe da casa, gosto de estar em Timor, fui bem recebida, mas estou aqui também por necessidade. Em Julho quando tive conhecimento, do empenho e vontade política do governo em resolver o problema fiquei contente e penso que todos pensaram que a situação iria mudar. Mas....? Mais uma vez peço desculpa por esta interpelação, mas sinto que é uma pessoa sensível e talvez possa ser porta voz da minha situação e da dos colegas . Devo dizer que digo tudo isto em nome pessoal. Obrigada Parabéns a Timor. Está em festa e vestiu se com as cores da sua Bandeira".

Sr. Primeiro Ministro Dr. Rui Maria Araújo: que se passa? O Sr. Primeiro Ministro prometeu publicamente em pelo menos duas ocasiões que iria resolver este problema que parece ser uma questão de negligência por parte de Ministros e altos funcionários da tutela.

J. Ramos-Horta
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