terça-feira, 26 de maio de 2015

Ana Gomes apela a que justiça timorense reveja prisão preventiva de português em Díli

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Tiago Guerra
Díli, 26 mai (Lusa) - A eurodeputada portuguesa Ana Gomes apelou hoje à justiça timorense para que considere "questões humanitárias" e altere a medida de coação aplicada a Tiago Guerra, em prisão preventiva desde outubro, por suspeita de branqueamento de capitais.

"Espero que possa ser revista a medida de coação, tendo em conta razões humanitárias. Desde logo as condições de saúde que fizeram Tiago Guerra ir ao hospital duas vezes em situação muito crítica e depois o próprio trauma de família, com filhos pequenos separados dos pais, algo que pode ser minimizado se a prisão preventiva for num regime menos gravoso, como prisão domiciliária", disse Ana Gomes à agência Lusa em Díli.

Ana Gomes falava à Lusa no final de uma visita de três dias que efetuou a Díli, durante a qual, além de visitar o português Tiago Guerra na cadeia de Becora, em Díli, se encontrou com vários responsáveis timorenses, incluindo o chefe de Estado, Taur Matan Ruak, o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, e o antecessor deste, Xanana Gusmão.

A eurodeputada, esteve ainda reunida com o ministro Coordenador da Justiça, Dionisio Babo, com o ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, Agio Pereira, e com os advogados do cidadão timorense, não tendo conseguido reunir-se com o procurador-geral.

"O meu apelo às autoridades timorenses foi sobretudo centrado sobre a questão da revisão da medida de coação que está a ser aplicada", disse.

"Senti compreensão por parte das autoridades timorenses. Isto não é uma decisão das autoridades executivas, mas sim do poder judicial", recordou.

Destacando o trabalho da equipa de advogados de defesa, designada pelos timorenses, Ana Gomes mostrou-se esperançada de que a justiça reaja relativamente à medida de coação, "para que possa aguardar de forma menos traumatizante e devastadora para os laços familiares o desfecho da investigação e eventual julgamento".

Ana Gomes referiu-se ainda aos eventuais laços entre este caso de Tiago Guerra e o de Bobby Boye, um ex-conselheiro do setor petrolífero do Governo timorense que em abril se declarou culpado, num tribunal federal norte-americano, de conspiração para defraudar Timor-Leste em mais de 3,5 milhões de dólares.

Para Ana Gomes, o facto de Boye se ter declarado culpado, "dando todos os detalhes" sobre a sua burla, pode abrir "alguma esperança" no caso de Tiago Guerra, clarificando exatamente que "não há necessariamente relação" entre os dois casos.

Ana Gomes disse esperar que a justiça timorense atue "com independência e o mais rapidamente possível.

"Eu não ponho em causa que a justiça timorense tem que fazer o seu trabalho com independência. Ainda por cima, num caso em que há suspeitas de corrupção, de branqueamento de capitais", declarou, sublinhando, contudo: "Não posso ignorar que esta prisão ocorreu naquele contexto do braço de ferro que levou à expulsão dos juízes portugueses, um episódio triste, em que a própria justiça se dotou para afirmar a sua independência face ao poder executivo".

Ana Gomes disse que se deslocou a Díli porque é "amiga de Timor" e sempre trabalhou "para o bom relacionamento entre Portugal e Timor" e que todos os contactos que manteve, incluindo com Tiago Guerra, podem ser uteis.

Questionada sobre a situação do detido, Ana Gomes disse que este está "muito magro, mas bem" e "confiante" de que os elementos que já deu, e possa vir a dar, permitam esclarecer o assunto "e que a sua inocência seja demonstrada".

"Mas está consciente de que está com a sua vida toda paralisada, que tem uma situação dramática com a separação de pais e filhos e também que este é um processo lento que tem a ver com as próprias capacidades da justiça timorense", concluiu.

ASP // ARA

Lusa/Fim
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