Foto de, Gabinete do Primeiro-Ministro. |
Díli, 06 abr (Lusa) - Milhares de timorenses, de várias paróquias do
país, juntaram-se hoje para o último adeus ao ex-bispo de Díli Alberto
Ricardo da Silva, com flores coloridas, cânticos e orações, numa longa
procissão até ao cemitério de Maloa, no sul da cidade.
Jovens, muitos com camisolas das suas paróquias ou com outras
alusivas ao massacre de Santa Cruz, alinharam-se dos dois lados da
estrada na viagem lenta e sob um sol abrasador de cerca de cinco
quilómetros desde a Catedral de Díli, onde decorreu a missa fúnebre até
ao cemitério.
As principais figuras de Estado, que já tinham acompanhado a missa,
juntaram-se à longa procissão, com Xanana Gusmão, boné vermelho do Real
Madrid na cabeça a entusiasmar os seus compatriotas: "cantem, cantem".
Dos dois lados bandeiras amarelas e brancas, com a foto do bispo, um
terço e a frase "Adeus Amu Bispo" - Amu é Padre em tétum e é normalmente
o termo de respeito usado para o clero.
Alberto Ricardo da Silva, que morreu na quinta-feira no Hospital
Nacional Guido Valadares em Díli, teve quase um funeral de Estado, com
as homenagens a começarem na madrugada de Sexta-feira Santa, no velório
na sua ex-residência.
Hoje é dia de luto nacional - as bandeiras estão a meia haste até ao
por do sol - e as principais figuras do Estado participaram no velório
formal, domingo e na missa de hoje, celebrada por - Basílio do
Nascimento, bispo de Baucau e administrador apostólico de Díli, Norberto
Amaral, bispo de Maliana e Eugene Hurley, bispo de Darwin.
.
.
Foto de, Gabinete do Primeiro-Ministro |
."Todo o ser humano é um sopro", disse Basílio do Nascimento na
homilia em que recordou "a força de vontade" e a "força de caráter" do
prelado, referindo a dedicação que Alberto Ricardo da Silva - "poeta,
escritor, místico e desportista" - sempre deu a Timor-Leste e aos
timorenses.
Talvez em sintonia com a fotografia sorridente do bispo, colocada à
esquerda do caixão, tanto Basílio do Nascimento como Xanana Gusmão - o
ex-presidente e ex-primeiro-ministro falou em nome da sociedade civil -
fizeram, por várias vezes, rir os milhares de presentes.
Histórias da juventude do ex-bispo de Díli e, acima de tudo, um
momento aproveitado por Xanana Gusmão para recordar o papel da Igreja
timorense na libertação do país e, em concreto, o do falecido bispo na
defesa dos ideais da independência.
Perante quase 200 padres, todos destacaram em particular o seu apoio
aos jovens, nomeadamente antes e depois do massacre de Santa Cruz em 12
de novembro de 1991, quando era vigário geral da diocese de Díli.
O prelado ignorou as ameaças das autoridades indonésias, aceitou
celebrar missa em nome de Sebastião Rangel, um jovem cuja morte precedeu
a manifestação que culminou com o massacre.
Um dos momentos altos das exéquias a Alberto Ricardo da Silva foi já
no final quando o chefe de Estado, Taur Matan Ruak, condecorou
postumamente o ex-bispo de Díli, pelo seu serviço à nação,
atribuindo-lhe a Ordem de Nicolau Lobato, tal como tinha solicitado o
Governo.
Antes, num discurso que encerrou a missa fúnebre, Taur Matan Ruak
recordou Alberto Ricardo da Silva como um homem pautado pela "dedicação,
responsabilidade e serviço à nação", sempre presente "com coragem, nos
momentos mais difíceis" da história do território.
Sempre ao lado do povo, disse, mostrando "grande capacidade
organizadora e mobilizadora" ficando como "um exemplo de coerência, de
confiança e de trabalho" e uma "marca de esperança no futuro".
ASP // JPS
Lusa/Fim
,
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.