Díli, 28 jan (Lusa) - Dois ministros timorenses confirmaram hoje à
Lusa que o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, lhes anunciou que
se vai demitir do cargo, durante um jantar "de despedida" com
praticamente todo o executivo.
Os ministros, que solicitaram o anonimato, confirmaram à Lusa que o
anúncio foi feito por Xanana Gusmão durante o jantar de mais de cinco
horas que o primeiro-ministro manteve com 53 dos 55 membros do Governo.
Questionado pela Lusa à saída do jantar, Xanana Gusmão escusou-se a
confirmar se vai ou não demitir-se, explicando que este é um momento "de
reflexão" e que nos próximos dias vai falar ao país.
"Vou falar com o Presidente", disse Xanana, sem mais comentários.
Um dos ministros disse à Lusa que Xanana foi "bem claro".
"O Xanana não vai ficar como primeiro-ministro. Ele disse isso bem
claro hoje. Este foi o nosso jantar de despedida. Foi o jantar de
despedida do primeiro-ministro. Eu não posso dizer mais nada. Ele depois
vai anunciar", afirmou.
Um outro ministro admitiu que a decisão vai causar preocupação mas que é um passo natural.
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"O que o primeiro-ministro disse é verdade: que já é hora de ter mais
líderes. A nossa sociedade não pode depender só de uma pessoa. Temos
que ir preparando esta sociedade", disse, acrescentando ainda: "Mas vai
ser duro para muita gente".
A forma como Xanana Gusmão abandonará o Governo continua em dúvida,
em especial depois do próprio porta-voz do Governo timorense, Agio
Pereira, confirmar hoje em comunicado que "está em curso" o processo de
reestruturação do executivo.
"O anúncio oficial sobre a composição do Governo, mandatado até 2017
para conduzir Timor-Leste, deverá ocorrer no início da próxima semana",
referiu.
"O objetivo da reestruturação é tornar o Governo mais eficiente e
eficaz, focando-o na prestação de serviços para o povo de Timor-Leste",
sublinha, remetendo mais declarações para "um momento apropriado".
O jantar de mais de cinco horas terminou de forma emotiva com Xanana
Gusmão a entregar, perante as câmaras dos jornalistas, lembranças aos
mais de 20 membros do atual executivo timorense, incluindo seis
ministros, que estão de saída do Governo.
Xanana Gusmão escreveu no passado dia 26 a todos os membros do seu
executivo a dizer se ficam ou não no novo Governo, informando os que
saem que devem preparar-se para se demitir até 01 de fevereiro.
Fonte do executivo timorense disse então à agência Lusa que as cartas
"eram de dois tipos": para os que vão continuar no Governo, a pedir
para se prepararem "para a nova estrutura", e os que saem, para que se
preparem para a resignação "até 01 de fevereiro".
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"O primeiro-ministro escreveu a todos os 55 membros do executivo. Uns
para dizer que ficam, outros para dizer que saem", acrescentou a fonte
governamental.
Fonte do Governo confirmou à Lusa que foram pedidos pareceres sobre
vários aspetos relacionados com a liderança do país, nomeadamente o que
fazer em caso de demissão do primeiro-ministro, como convocar eleições
antecipadas e como proceder a uma remodelação governativa.
Um dos cenários atualmente a ser discutido no seio do Governo é a
possibilidade de que Xanana Gusmão apresente a sua demissão e depois o
seu partido, Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste
(CNRT), que tem a maior representação parlamentar, avance com um
candidato a primeiro-ministro.
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Fonte do executivo disse à Lusa que, em alternativa, o nome mais
referido é o de Rui Araújo, que integra o comité central da Fretilin, na
oposição, e fez parte do I Governo Constitucional.
Inicialmente, Rui Araújo foi falado como sucessor de Emília Pires na
pasta das Finanças, mas, como comentou à Lusa um ministro, "servir a
nação ao mais alto nível pode ser necessário".
Fonte da Fretilin disse à Lusa que membros do seu partido que
eventualmente venham a integrar o executivo o façam de forma individual e
não partidária.
Ainda assim, num cenário como o de Rui Araújo ser primeiro-ministro,
poderá ser necessária uma reunião da comissão nacional da Fretilin.
Uma das novidades do futuro executivo é a entrada de membros da
Fretilin, que estão a ser convidados de forma individual e não através
do partido em si.
ASP // EL
Lusa/Fim
Nota: Dionísio Babo, secretário-geral do CNRT e também atual ministro da Justiça em declarações ao Jornal Suara Timor Lorosae,
disse que são apenas rumores a resignação de Xanana Gusmão, porque o
partido ainda não teve nenhum conhecimento da resignação do
primeiro-ministro. Babo afirmou também que o partido de Gusmão não
concorda com a demissão do chefe do executivo e apelou à comunidade para
pararem com as especulações.
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