Por Francisco Sarsfield Cabral - Renascença
Depois da descolonização portuguesa ter originado guerras civis e enormes sofrimentos, com Timor “limpamos a cara”.
Nenhuma causa mobilizou e uniu tanto os portugueses como a libertação de
Timor-Leste do jugo da Indonésia. O governo português, então chefiado
por António Guterres, foi incansável na acção diplomática, decisiva para
dar a independência aos timorenses. Nessa altura, e durante muitos
anos, Xanana Gusmão era recebido em Portugal como um herói.
É
possível que o nosso entusiasmo pela causa timorense tivesse algo a ver
com o facto de a descolonização portuguesa ter originado guerras civis e
enormes sofrimentos em países como Moçambique e sobretudo Angola. Com
Timor “limpávamos a cara”. Daí uma certa mitificação de Timor-Leste.
A
violência com que magistrados portugueses foram agora expulsos de
Timor, como se de criminosos se tratasse, acaba com o mito. Além de
interferência antidemocrática do poder político (Parlamento e Governo)
no poder judicial, esta insólita decisão e a forma hostil como foi
feita, provavelmente reflectindo o incómodo de interesses timorenses ou
australianos com processos judiciais, deve limitar ao mínimo a
cooperação de Portugal com Timor-Leste.
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