Lisboa, 23 jul (Lusa) -- A eurodeputada Ana Gomes disse hoje à
agência Lusa estar "chocada" com a entrada da Guiné Equatorial na
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), considerando que "é
um regime ditatorial, criminoso e ladrão" do seu próprio povo.
"Já era esperado, mas choca-me na mesma. Acho que é uma
desvalorização, um atentado à própria imagem ou potencial da CPLP,
porque no fundo está a branquear um regime ditatorial e um regime que é
criminoso, que tem processos nos Estados Unidos e em França por
criminalidade económica e financeira", disse Ana Gomes à Lusa.
A Guiné Equatorial, que pediu adesão ao bloco lusófono em 2010,
entrou hoje na CPLP como membro de pleno direito durante a décima
conferência de chefes de Estado e de Governo da organização, que
decorreu pela primeira vez na Ásia, no caso em Díli, Timor-Leste.
Em declarações à Lusa, a eurodeputada socialista salientou que a
questão do português é muito importante, mas não a mais relevante.
"Importante é sobretudo o branqueamento político que se está a tentar
fazer através desta adesão em relação a um regime odioso (...). No caso
da Guiné Equatorial estamos perante um regime ditatorial, ladrão do seu
próprio povo e não há razões nenhumas para ser branqueado
politicamente, que é o que está a tentar fazer a CPLP", frisou.
Ana Gomes lembrou também que existem outros países fundadores da CPLP
que, além da língua portuguesa, têm pelo menos a base constitucional e o
objetivo de viver de acordo com as regras democráticas.
No entender da eurodeputada, toda esta situação "faz muito mal à CPLP
e à credibilidade dos países que aceitaram a adesão", como é o caso de
Portugal.
"A mim pessoalmente causa-me tristeza que isto tenha acontecido em
Timor-Leste, com líderes que eu conheço bem e que tiveram um papel
importante na libertação do seu povo relativamente a uma outra ditadura e
que agora têm memória curta, mas eu não tenho", salientou.
A eurodeputada sublinhou que o "mundo não para", sendo agora
necessário "passar a ter mais escrutínio" em relação ao que se passa na
Guiné Equatorial, no sentido de ajudar o povo "contra um regime ladrão e
opressor".
"Há muitas ações que são possíveis de empreender ao nível
financeiro. Há uns meses escrevi ao Banco de Portugal e à CMVM [Comissão
do Mercado de Valores Mobiliários] sobre investimentos no país. E
disseram-me que não tinham sido solicitados a pronunciar-se sobre
possíveis investimentos da Guiné Equatorial, como por exemplo no Banif",
contou.
A responsável disse também que escreveu às autoridades europeias e à
própria agência europeia bancária de supervisão sobre o mesmo assunto.
"Naturalmente, acionaremos todos os meios para que seja exercida
vigilância, para que este regime não utilize a CPLP para intensificar os
esquemas de branqueamento de capital, onde infelizmente há portugueses
implicados, designadamente os promotores da entrada da Guiné Equatorial
na CPLP como o dr. Martins da Cruz e Luís Amado", disse, referindo-se a
dois ex-chefes da diplomacia portuguesa.
Ana Gomes disse ainda esperar que não aconteça aos empresários
portugueses o que aconteceu ao empresário Robert Rinaldi, que está preso
na Guiné Equatorial "porque ousou questionar os esquemas de
branqueamento de capitais".
Integram agora a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné
Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
DD // VM
Lusa/Fim
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