Díli, 19 jul (Lusa) - O antigo Presidente de Timor-Leste José
Ramos-Horta afirmou hoje concordar com a adesão da Guiné Equatorial à
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e considerou "absurdo" ver a
entrada do país com base no interesse económico.
"Eu concordo com a adesão da Guiné Equatorial pelo facto de acreditar
que pela inclusão da Guiné Equatorial temos mais chances de influenciar
as transformações que são necessárias e que vão acontecer", afirmou em
entrevista à agência Lusa o também Prémio Nobel da Paz.
Timor-Leste assume pela primeira vez a presidência da CPLP durante a
cimeira de chefes de Estado e de Governo dedicada ao tema "CPLP e a
Globalização", que se vai realizar no dia 23 em Díli, e que deverá ficar
marcada pela entrada da Guiné Equatorial e pelo regresso da
Guiné-Bissau, após suspensão decretada na sequência do golpe de Estado
de 2012.
A entrada da Guiné Equatorial, liderada por Teodoro Obiang desde
1979, tem sido fortemente contestada por várias organizações da
sociedade civil, que acusam o governo de vários atentados aos direitos
humanos e à liberdade no país.
"Não há regime hoje em África ou em qualquer lado do mundo que possa
estar imune às exigências e expetativas do seu povo. O que a CPLP pode
fazer ao permitir a adesão da Guiné Equatorial é discretamente, mas
ativamente e firmemente trabalhar com o regime no sentido de abertura
incremental.
Primeiro acabar com a pena de morto. Segundo acabar com
prisões arbitrárias e tortura e a pouco e pouco permitir liberdade de
expresão e democracia multipartidária", afirmou José Ramos-Horta.
.
.
Segundo o antigo Presidente timorense, aquilo foi o que aconteceu com
a Birmânia quando aderiu à Associação das Nações do Sudeste Asiático
(ASEAN).
"O que prevaleceu na ASEAN, apesar da oposição das Filipinas, foi
trazer a Birmânia para dentro da organização como a melhor forma de
encorajar a evolução política do país", salientou.
"Eu aplico o mesmo regime à Guiné Equatorial acredito que é possível.
Temos de ouvir sempre os nossos amigos, aconselharmo-nos junto deles,
trabalhar com eles, para permitir ao único país de língua espanhola no
continente africano aderir à CPLP. Até porque a Guiné Equatorial tem
história com os países da CPLP", afirmou.
Para José Ramos-Horta é "absurdo" associar a entrada na Guiné Equatorial a razões de interesse económico.
"O que eu rejeito é quando se diz que é por razões económicas. A
produção petrolífera na Guiné Equatorial é mínima quando se compara com o
gigante que é Angola, com o potencial de Moçambique. Não é a Guiné
Equatorial que vai transformar as nossas economias quando temos uma
Angola e Moçambique. É um bocado absurdo vermos a adesão por um lado de
interesse económico", sublinhou.
O antigo Presidente timorense regressou a Timor-Leste no passado mês
de junho depois de ter estado 18 meses na Guiné-Bissau a representar o
secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, na Missão Integrada das Nações
Unidas para a Guiné-Bissau.
MSE // PJA
Lusa/Fim
.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.