Lisboa, 24 jul (Lusa) - O deputado socialista João Soares considerou
hoje que a adesão da Guiné Equatorial à Comunidade de Países de Língua
Portuguesa "envergonha Portugal, envergonha a CPLP e é um erro
monumental" que "reduz muito o papel da CPLP no mundo".
A entrada da Guiné Equatorial, como membro de pleno direito da CPLP,
por consenso e sem votação, foi anunciada em Díli, onde está a decorrer a
décima cimeira de chefes de Estado e de governo dos países lusófonos.
"Admitirmos [na CPLP] uma das ditaduras mais longas do mundo e mais
corruptas é uma coisa que devia envergonhar as pessoas que têm um mínimo
de carácter", disse João Soares à agência Lusa .
"Aquilo [a Guiné Equatorial] é uma ditadura torcionária, que pratica a
tortura, que elimina os adversários políticos, que continua a praticar a
pena de morte, ao contrário do que eles dizem... isto é uma coisa de
uma hipocrisia total e, portanto, estou profundamente envergonhado",
sublinhou.
A entrada da Guiné Equatorial no bloco lusófono "é uma coisa
miserável que reduz muito a imagem, o papel e a importância da CPLP no
mundo, como é óbvio. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és, é tão
simples quanto isso", declarou.
João Soares considerou "um disparate" defender que a adesão da Guiné
Equatorial a um bloco democrático possa vir a favorecer mudanças
democráticas no país.
"Não há nenhum exemplo de uma coisa dessas ter acontecido onde quer
que seja, ainda por cima com uma ditadura daquele tipo, que é uma
ditadura de carácter familiar, de um torcionário, de um tipo [o chefe de
Estado da Guiné Equatorial Theodoro Obiang] que matou o tio para chegar
ao poder e que está há mais tempo no poder que o [presidente de Angola]
José Eduardo dos Santos", argumentou.
"Depois de [o antigo líder da Líbia Muammar] Kadhafi ter morrido,
este é o campeão mundial... é um disparate dizer que se vai converter à
democracia", reforçou.
O deputado socialista lamentou ainda a ausência da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, na décima cimeira da CPLP, em Díli.
Entre todos os líderes do bloco lusófono, presentes em Díli, Dilma
Rousseff "é a única que tem pessoalmente a experiência da cadeia às mãos
de um regime torcionário, que foi a ditadura militar no Brasil, e tem a
experiência da tortura", disse.
A Guiné Equatorial, que pediu adesão ao bloco lusófono em 2010,
entrou hoje na Comunidade de Países de Língua Portuguesa durante a
décima conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP, que
decorreu pela primeira vez na Ásia, no caso em Díli, Timor-Leste.
O primeiro passo para a sua adesão ao bloco lusófono foi "a moratória
sobre a pena de morte" anunciada no início do ano pelo Governo
equato-guineense através de um decreto presidencial, o que levou o
conselho dos ministros da CPLP reunido em Maputo, Moçambique, a
recomendar a acessão.
Com um estatuto de observador desde 2006, mas ainda sem ter abolido
de forma definitiva a pena de morte, a Guiné Equatorial irá juntar-se
aos oito membros da CPLP: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, os quais já
aboliram aquela forma de punição.
Antiga colónia espanhola da África subsaariana, a Guiné Equatorial é
um dos maiores produtores de petróleo do continente e é liderada por
Teodoro Obiang desde 1979. No entanto, o país operou uma reforma
política em 2011 para favorecer a democracia.
EJ // APN
Lusa/Fim
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