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Díli, 02 jun (Lusa) - A organização não-governamental La'o Hamutuk,
Instituto de Monitorização e Análise do Desenvolvimento de Timor-Leste,
alertou hoje que não há petróleo e gás para sustentar o país por muito
tempo.
"Timor-Leste não tem petróleo e gás suficiente para sustentar o país
por muito tempo. Se a economia não petrolífera não se desenvolver,
quando ele secar, em meia geração, muitos timorenses vão juntar-se à
volumosa maioria que vive na linha abaixo da pobreza", alerta o
investigador da La'o Hamutuk Charles Scheiner.
Charles Scheiner já tinha feito o alerta durante uma conferência
sobre Timor-Leste realizada na Universidade Nacional da Austrália em
novembro passado. A análise, atualizada e hoje divulgada, vai ser
publicada brevemente em livro.
"Quando as receitas do Estado não cobrirem as despesas, Timor-Leste
vai cair na austeridade, com implicações drásticas para o Estado e os
seus cidadãos", refere.
Em 2014, o valor do Orçamento de Estado, financiado maioritariamente
pelo Fundo Petrolífero, ultrapassou os mil milhões de euros.
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Na análise, o investigador refere que alguns já estão a começar a
reconhecer que o Fundo Petrolífero, que em março era de 11,4 mil milhões
de euros, "não é suficiente e que Timor-Leste tem de resolver
rapidamente a sustentabilidade económica não-petrolífera".
Segundo os cálculos da La'o Hamutuk, o Fundo Petrolífero vai começar a
diminuir em 2019 quando os gastos começarem a exceder as receitas do
petróleo.
"Em 2026, antes dos bebés de hoje terminarem a escola secundária, o
Fundo terá sido utilizado e Timor-Leste terá de cortar em dois terços os
gastos", salienta o investigador.
Se a empresa petrolífera australiana "Woodside e a Austrália levarem a
melhor e o Sunrise for desenvolvido numa plataforma flutuante os cortes
vão ser de 70%, mas se o projeto continuar parado, Timor-Leste vai ter
de cortar 88% depois de 2026, fechando ainda mais escolas, clínicas,
escritórios e postos de polícia", refere.
Timor-Leste e a Austrália entraram num impasse em relação à
exploração do Greater Sunrise, enquanto a petrolífera australiana
defende a exploração daquele poço numa plataforma flutuante, as
autoridades timorenses querem a construção de um gasoduto para a costa
sul para desenvolver o país.
Em 2012, Timor-Leste acusou formalmente, junto do Tribunal Permanente
Arbitral de Haia, a Austrália de alegada espionagem quando estava a ser
negociado um tratado sobre a exploração do petróleo e gás no Mar de
Timor.
Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado
anulado, podendo assim negociar a limitação das fronteiras marítimas e
tirar todos os proveitos da exploração do campo de gás de Greater
Sunrise, que vale milhares de milhões de dólares.
"A reserva petrolífera de Timor-Leste e a riqueza do petróleo não
será capaz de financiar o Estado por mais 20 anos, mesmo que os desejos
do país para o desenvolvimento do Greater Sunrise, retorno de
investimento e preço do mercado global do petróleo sejam garantido",
refere.
Para a La'o Hamutuk, para evitar aquele cenário é necessária uma
"rápida mudança de direção" para o aumento da produção local de
alimento, reduzir importações, cortar em gastos desnecessários e
cancelar "megaprojetos inúteis".
"Timor-Leste deve fortalecer o seu mais forte recurso - o seu povo -
investindo na educação, nutrição, cuidados de saúde e de água e
saneamento. Timorenses de todas as classes económicas vão ter de
trabalhar juntos para derrotar a maldição dos recursos naturais para
sobreviver e prosperar, criando uma economia justa e sustentável",
salienta a organização.
MSE // DM.
Lusa/Fim
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