Lisboa, 29 mai (Lusa) -- O raquitismo nas crianças com menos de cinco
anos está a diminuir em Timor-Leste mas os especialistas advertem que é
necessário investir mais em suplementos vitamínicos, iodização do sal e
educação das mães.
"Acima de tudo, é importante que olhemos para Timor-Leste como um
caso de sucesso", disse Hongwei Gao, representante timorense junto da
UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no país, ao IRIN,
serviço de notícias e análise humanitária que cobre partes do mundo
frequentemente isoladas, incompreendidas ou ignoradas.
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Num relatório de 2013, a UNICEF apontou Timor-Leste como o país do
mundo com a maior percentagem de crianças com menos de cinco anos cujo
desenvolvimento físico está moderada ou gravemente afetado (58 por
cento), apenas equiparado ao Burundi.
Uma análise preliminar de um inquérito nutricional organizado em 2014
pela UNICEF e pelo Governo timorense mostra que esse indicador caiu (ou
seja, melhorou) para 52 por cento.
O raquitismo é reflexo da subnutrição crónica durante os períodos
mais críticos do crescimento e desenvolvimento no início da vida,
especialmente nos primeiros três anos.
As crianças raquíticas correm maiores riscos de doença, morte e atraso no desenvolvimento cognitivo.
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"O facto de o raquitismo estar em queda nos últimos anos é um bom
sinal -- esperamos, nos próximos cinco anos, conseguir reduzi-lo a 40
por cento", disse João Bosco, que dirige o departamento de nutrição do
ministério da Saúde de Timor-Leste.
Para atacar o raquitismo, o Governo de Timor-Leste, país com 1,1
milhões de habitantes, definiu uma Estratégia de Nutrição Nacional em
2004 e reviu-a em 2012 para promover mudanças comportamentais que
melhorassem a alimentação, tais como o programa de alimentação de bebés e
crianças pequenas, educação, suplementos vitamínicos, tratamento de
crianças gravemente subnutridas e um programa de iodização do sal.
"Na luta para melhorar a nutrição, existem muitos fatores --
incluindo o acesso a alimentos nutritivos e de qualidade, os hábitos de
higiene adequados, ter cuidados de saúde básicos de boa qualidade, e boa
água, saneamento e desparasitação", explicou Gao.
"As pessoas falam das fracas habilitações de Timor-Leste, mas se não
se investir em habilitações humanas agora, dir-se-á a mesma coisa daqui a
20 anos", prosseguiu, acrescentando "não ser claro qual destes fatores
desempenhou o maior papel na redução do raquitismo em Timor-Leste".
Mas, na opinião do responsável, "o mais importante é que todos eles
sejam encarados como componentes cruciais e o Governo deveria começar a
investir em cada um deles".
Rosária Martins da Cruz, diretora da Hiam Health, uma organização
não-governamental sediada em Dili que gere um centro de reabilitação e
alimentação, observou: "Se essas novas percentagens são verdadeiras,
porque é que eu continuo a ver as minhas instalações cheias de crianças
escanzeladas? E o que significa um persistente nível elevado de
raquitismo para o futuro deste orgulhoso país independente?".
Para a responsável, a permanente luta de Timor-Leste contra a subnutrição é uma tragédia ancorada na desigualdade.
"Eu digo às mães que exigir acesso às informações e aos serviços para
criar uma criança bem nutrida faz parte de se ser um cidadão deste país
com os mesmos direitos", defendeu.
"Assegurarmo-nos de que o raquitismo acaba neste país é um passo em
direção à igualdade na sociedade e o Governo deve começar a levar isso a
sério -- isto deveria deixar de ser financiado por doadores e passar a
sê-lo com dinheiro timorense", argumentou.
Uma análise do Banco Mundial mostrou que a subnutrição e o raquitismo
podem ter impacto no Produto Interno Bruto (PIB), ao contribuírem para
piores resultados escolares e despesas mais elevadas com os cuidados de
saúde ao longo da vida, entre outros fatores.
"A boa nutrição é um alicerce básico do capital humano", sustentou a instituição.
ANC // APN
Lusa/fim
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