Díli, 17 mar (Lusa) - Um diplomata da Austrália advertiu na semana
passada as autoridades timorenses de que haverá consequências nas
relações bilaterais por causa do processo iniciado por Timor-Leste no
Tribunal de Haia, noticia hoje a imprensa australiana.
As autoridades timorenses foram "ingénuas ao pensar que a arbitragem e
o assunto da delimitação marítima não vão afetar as relações
bilaterais", afirmou um alto diplomata australiano, citado pela ABC, sem
ser identificado.
Timor-Leste acusou formalmente, junto do Tribunal Permanente Arbitral
de Haia, a Austrália de espionagem quando estava a ser negociado um
tratado sobre a exploração do petróleo e gás no Mar de Timor.
Com a arbitragem internacional, Timor-Leste pretende ver o tratado
anulado, podendo assim negociar a limitação das fronteiras marítimas e
tirar todos os proveitos da exploração do campo de gás de Greater
Sunrise, que vale milhares de milhões de dólares.
Segundo a imprensa australiana, a Austrália pediu há duas semanas ao
Tribunal Permanente Arbitral para excluir do processo as informações
fornecidas por um antigo agentes dos serviços secretos do país à defesa
timorense.
Por causa daquelas informações, os serviços secretos australianos
realizaram no final do ano passado rusgas ao escritório e residência do
advogado australiano que representa Timor-Leste, tendo apreendido uma
série de documentos, e retirado o passaporte ao funcionário que forneceu
dados aos timorenses, impedindo-o de sair do país.
Na sequência daquela rusga, Timor-Leste recorreu ao Tribunal
Internacional de Justiça (TIJ), que no início deste mês decidiu impedir a
Austrália de utilizar os documentos apreendidos.
Na decisão, o TIJ, o principal órgão judicial das Nações Unidas,
decidiu que a Austrália "deve assegurar que o conteúdo do material
apreendido não é, em momento algum, utilizado por alguma pessoa ou
pessoas, até que o caso presente seja encerrado".
O TIJ exigiu que a Austrália mantenha selados os documentos e
informação eletrónica e quaisquer cópias até "futuras decisões do
Tribunal".
O tribunal decidiu também que Camberra não pode "interferir de forma
nenhuma nas comunicações entre Timor-Leste e os seus advogados"
relacionadas com a arbitragem pendente do tratado do mar de Timor, com
quaisquer futuras negociações relativas à delimitação marítima ou com
qualquer outro procedimento que envolva os dois países, incluindo o
atual caso presente a tribunal.
A Lusa está a tentar obter uma posição do Governo timorense sobre a
declaração do diplomata revelada hoje pela imprensa australiana.
MSE // HB
Lusa/Fim
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