Por Filipa Parreira, da agência Lusa
Lisboa, 16 mai (Lusa) - O Banco Espírito Santo (BES) inicia no dia 23
uma missão empresarial a Timor-Leste, em parceria com a Câmara de
Comércio Luso-Indonésia e com a participação de outras empresas
portuguesas, anunciou o chefe da diplomacia timorense.
"Tive o privilégio de me encontrar com Ricardo Salgado [presidente do
BES] e a direção do BES. Eles estão a preparar uma visita a Timor-Leste
nos próximos dias, irão outras empresas do setor público e privado.
Para nós é uma boa notícia", disse José Luís Guterres, em entrevista à
Lusa.
O ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Timor-Leste
iniciou na quarta-feira uma visita de quatro dias a Portugal, na qual
manterá reuniões com outras empresas, devendo ainda ser recebido pelo
seu homólogo, Paulo Portas, e pelo Secretário Executivo da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy.
Em termos económicos, disse o ministro, "Timor-Leste gostaria que os
setores privados de Portugal e da CPLP pudessem considerar Timor-Leste
como destino dos seus investimentos".
"Pensamos poder fazer algo mais para estreitar as relações de
solidariedade e fraternidade entre Portugal e Timor-Leste", disse,
afirmando que Díli está "a criar condições básicas para facilitar o
investimento estrangeiro", tanto a nível legislativo como em
infraestruturas.
Na entrevista à Lusa, o governante, que no executivo anterior foi
vice-primeiro-ministro, sublinhou a estabilidade de que goza hoje
Timor-Leste.
Recordou que enquanto em 2002, ano da independência do país, o
rendimento per capita era de 475 dólares, hoje é de 6.000 dólares.
"Sabemos que esse número não significa que toda a nossa população
esteja a viver nas melhores condições, ainda há população que vive nos
limites da pobreza", reconheceu o ministro, sublinhando o plano
governamental de, até 2030, colocar Timor-Leste no grupo dos países de
rendimento médio-alto.
Dias depois de o Banco Central timorense divulgar que o Fundo
Petrolífero de Timor-Leste subiu para 10 mil milhões de euros, o
ministro admitiu que o país tem "alguns recursos", mas não é um país
rico.
"A maior riqueza que um país pode ter são os recursos humanos", disse Guterres, exemplificando que essa é uma aposta do Governo.
Questionado sobre se o país ainda precisa de ajuda externa, o
governante disse que sim, mas não em termos do Orçamento do Estado.
"O nosso orçamento é financiado em 100% pelos recursos nacionais",
disse, explicando que os apoios necessários são na área da cooperação
técnica, dos recursos humanos.
A cooperação ao nível da educação é aliás uma das questões a abordar
com o Governo português: "A reintrodução da língua portuguesa é uma área
em que Timor-Leste está profundamente empenhado.
(...) Contamos com o
apoio de Portugal, onde há muitos professores que poderão dar esse
contributo".
Questionado sobre se a crise em Portugal e a consequente redução da
cooperação com Timor-Leste poderão prejudicar as relações bilaterais,
Guterres garantiu que não.
"Acho que nos momentos de crise é que devemos fazer esforços",
afirmou, defendendo que a cooperação não deve cingir-se aos setores
económicos.
"Olhando para o passado, não foram os interesses económicos de
Portugal que fizeram mover os portugueses em 1999, quando Portugal saiu
vestido de branco em solidariedade com o povo de Timor-Leste", recordou.
"Queremos continuar a valorizar essa amizade e fraternidade que
ganhámos nesses tempos", disse, afirmando desejar que a memória desse
"momento histórico" continue a ser valorizada pelas gerações futuras.
Timor-Leste começa aliás a replicar a solidariedade de que beneficiou, ajudando países que enfrentam calamidades, disse.
"O sentimento é que fomos beneficiados muitos anos pela solidariedade
de Portugal, da CPLP e da comunidade internacional. É tempo para
Timor-Leste, dentro das possibilidades que tem, estender a solidariedade
a outros países", referiu.
FPA // VM
Lusa/Fim
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