INTERVENÇÃO NA ABERTURA DO DEBATE DA LEI DO OGE DE 2013 DO
SECRETÁRIO-GERAL E DEPUTADO DA FRETILIN EM REPRESENTAÇÃO DA BANCADA
PARLAMENTAR DA FRETILIN
O COMBATE À POBREZA E A REDUÇÃO DA INFLAÇÃO
COMO PEDRA DE TOQUE RUMO AO DESENVOLVIMENTIO
Senhor Presidente do Parlamento Nacional!
Senhor Primeiro Ministro!
Ilustres Membros da Mesa!
Senhores Deputados!
Senhores Membros do Governo!
EXCELÊNCIAS!
Minhas Senhoras e meus Senhores!
Com
a vossa permissão, antes de passar a abordar questões relacionadas com
Orçamentos Anuais de Estado e, em particular, a proposta de Lei da OGE
de 2013, julgo ser importante tornar clara a postura da FRETILIN nesta
Magna Casa e fora dela durante a Terceira legislatura. A FRETILIN já deu
provas de ser uma Força Política sempre interessada em defender os
interesses de todo o nosso povo, estando a desempenhar funções de
governação do país ou não.
É a nossa preocupação com a
situação em Timor-Leste o que determina toda a nossa postura política.
Como tal, buscamos todos os caminhos possíveis para contribuir.
Fazêmo-lo de modo honesto, com frontalidade e objetividade que sempre
nos caracterizam. Na colocação dos problemas e na apresentação das
propostas temos sempre como objetivo fundamental contribuir
positivamente, na busca de soluções. Muitas vezes, a nossa postura visa
provocar alterações profundas e estruturantes em toda a extensão da vida
do nosso Estado. Por isso, nem a todos agradam. Mas fazêmo-lo para que
não se hipotequem as oportunidades e vantagens que o nosso país ainda
goza, ainda que cada vez de uma forma mais relativa.
Todos
sabemos que a nossa economia é uma economia essencialmente de
importação e de grande dependência das receitas petrolíferas. Porque
importamos quase tudo, e a preços especulativos, drenamos dos nossos
recursos provenientes, fundamentalmente, de fontes não-receitas. Ao
mesmo tempo, abrimos canais para a entrada descontrolada da inflação.
Para a combater exige-se tomada de medidas imediatas, ousadas, de
natureza macro-económica e fiscal.
Excelência Sr. Primeiro
Ministro. Ambos vivemos já experiências de governação. Sabemos que
foram duas conjunturas e, certamente, duas formas diferentes de
governar. Esta realidade já não é segredo para ninguém. Mas as nossas
experiências ensinaram-nos ao longo dos últimos dez anos que uma boa
governação não se compadece com a desregulação, com experimentalismos e
facilitismos nas despesas públicas, com amiguismos e de tendência
exclusivista. Num curto espaço de tempo, dez anos, estamos já prontos
para juntos refletirmos sobre a governação do país, analisarmos com
objetividade e juntos avançarmos para uma síntese que se impõe.
Há
factores que influenciam na nossa postura quando governamos. Uns
exógenos, outros, endógenos. Em relação a estes, nenhuma mão invisível
impõe regras de jogo, substituindo-se a nós próprios. Quando isto
acontece, é só perdemos confiança em nós próprios, passamos a acreditar
nos outros. Muitas vezes procuramos demonstrar o contrário, para
alimentar o nosso orgulho, auto-estima. No fim, os bons e maus
resultados dependem muito da macro-política por nós definida,
macro-política multifacetada – fiscal, económica, financeira, social,
cultural, em suma, de um desenvolvimento que se quer integrado e
integral. A chave está em fazermos uma política fiscal equilibrada, uma
política económica e social inclusiva e uma gestão competente e
transparente das finanças públicas. No fundo, uma boa governação.
É
importante recordarmos que a verdadeira economia significa gestão
racional dos recursos sempre escassos. Compromete-se a economia quando
se pensa que a solução dos nossos problemas assenta-se na utilização em
abundância e de modo galopante das receitas e outros recursos, e de
imediato. Embarcamos então em políticas de aumento de despesas sem olhar
para a capacidade da nossa própria economia de as absorver e das nossas
capacidades individual e colectiva de executar os nossos planos. Isto é
também válido para os recursos humanos. Querendo resolver tudo em pouco
tempo, tornamo-nos vitimas da nossa própria vontade de responder aos
problemas do povo. Porque queremos, muitas vezes fazê-lo a uma
velocidade da luz, acabamos por ignorar o estágio de desenvolvimento da
nossa sociedade e a capacidade subjetiva de intervenção do nosso capital
humano. Mas refiro-me à qualidade e não à quantidade. Com isso, criamos
uma economia que é um verdadeiro balão. Produzimos balões de ar quente
que, estes sim, à velocidade da luz, desaparecem do horizonte para
paragens longínquas. Não precisam de asas para voarem porque as ondas do
Tasi Mane e os ventos do Tasi Feto ajudam a afastá-los do nosso
controle.
Inflacionar a alocação dos recursos, somado à
falta de eficiência e de eficácia no seu uso, a curto e talvez médio
prazos, até podemos provocar um crescimento económico invejável. Mas não
devemos ter dúvidas que esta forma de intervir na vida política, social
e económica também transporta consigo o outro lado da moeda que é: i. a
inflação; ii. a marginalização crescente dos timorenses; iii. a
assimetria no desenvolvimento entre áreas urbanas e rurais; iv. a
distorção nosso sistema económico e social; v. o abuso do poder; vi. a
corrupção.
Quando a economia é de importação, compra-se
também a inflação. Todos os cuidados são necessários quando injetamos
recursos financeiros numa economia ainda pequena desta natureza. Se o
fizermos de um modo excessivo, ultrapassando a capacidade de absorção da
própria economia, corremos o risco de provocar distorções graves no
Mercado. O mais perigoso é quando esta distorção atinge o Mercado de
trabalho. Como resultado temos o trabalho a encarecer nos custos e a
empobrecer nos resultados . Perdemos a produtividade e a qualidade.
Como
consequência temos o seguinte: i. no plano doméstico, um crescimento da
economia em desfavor dos mais necessitados, daqueles com menor
rendimento, com mais baixo poder de compra, da maioria. (Chama-se a isso
crescimento sem qualidade, crescimento económico sem desenvolvimento
económico e social. A médio prazo, as fileiras dos pobres vão engrossar.
A classe média ainda de existência precária sucumbirá); ii. No plano
das nossas relações com o Mercado regional e global, a nossa economia
super-inflacionada, com o mercado distorcido (em particular o Mercado de
trabalho) torna-se cada vez menos competitiva, ou melhor,
incompetitiva. Uma inflação esporâdica de 11 a 12% numa economia
tradicionalmente competitiva e altamente produtiva já é grave.
Extremamente mais grave quando isto se verifica numa economia com as
características da nossa onde o sector produtivo vive um marasmo quase
total, a balança comercial extremamente negativa, as receitas domésticas
nem chegam para garantir o pagamento de salários e vencimentos dos
funcionários públicos.
Senhor Presidente do Parlamento Nacional!
Senhor Primeiro Ministro!
Excelências!
A
tarefa de governação é complexa. Sabêmo-lo por experiência própria.
Quando há falta de recursos tudo fazemos para os adquirir. Quando, e
sempre que parece haver recursos em abundância, inadvertidamente podemos
tornar-nos vítimas dos mesmos. Para que isto não aconteça, é necessário
protegermo-nos de todos os cuidados.
Como defensores
incontestáveis do aumento da qualidade de vida para todo o nosso povo,
nós, que ousamos sonhar com a independência e realizar os nossos sonhos,
devemos hoje e agora, refletir juntos sobre o que já fizemos nos
últimos dez anos para podermos crescer na medidas das nossas
necessidades em função capacidade de intervir no sentido da
transformação das mentalidades. Os recursos que possuímos não são
eternos. Podemos e devemos torná-los perpétuos. A chave está na
utilização de modo racional a favor de um desenvolvimento mais
inclusivo, mais equilibrado, justo e sustentável e para o bem de todas
as gerações .
O grande desafio que sempre enfrentamos
nestas condições é o de escolher os caminhos a seguir. Queremos andar
depressa, correr mesmo. Mas como acelerar o processo? Que tipo de
catalisadores usar?
Não há dúvida que o processo de
desenvolvimento é uma verdadeira maratona. Nos limites da nossas
capacidades e energias, aceitamos enfrentar desafios no campo social,
cultural, político, económico e financeiro. Por isso, do arranque até se
atingir a meta devemos saber controlar a velocidade a imprimir, mas
nunca parar, de modo a não esgotarmos as energias e quebrarmo-nos antes
de atingirmos os nossos objectivos. Tudo tem o seu tempo de maturação. É
necessário amadurecermos o processo através de uma política de
racionalização da utilização dos recursos e de definição clara de
prioridades em função das nossas capacidades de execução dos planos,
programas e projetos.
Senhor Presidente!
Senhor Primeiro Ministro!
Excelências!
No
ultimo quinquénio Timor-Leste foi bafejado pela sorte com a subida
galopante dos preços do petróleo. Nestes últimos cinco ou seis anos
também embarcamos ousadamente numa política fiscal e macro-financeiro
que tinha como objetivo a solução dos problemas do povo. Pelo menos foi e
é a intenção de muitos de nós. Definimos várias prioridades a serem
cumpridas. Aumentamos de modo galopante as despesas públicas anuais.
Gastamos no total mais de cinco mil milhões de dólares. Acreditávamos
serem medidas que iriam reduzir a pobreza. Enquadramos os Objetivos do
Desenvolvimento do Milênio (conhecido por MDG) nas nossas preocupações,
nos nossos planos. Mas o que conseguimos? E porquê?
Na
verdade, conseguimos um crescimento económico a dois dígitos (12,5%).
Por outro, também produzimos taxas médias de inflação a 13,5% em 2011 e
11,8% em 2012. (Estes indicadores não foram por mim inventados). A
redução na taxa de inflação em 2012 se deveu fundamentalmente às leis
próprias do Mercado – a questão da procura e da oferta. O que se
verificou foi que o mesmo valor nominal de um determinado salário ou
rendimento passou a perder, mais ou menos, ¼ do seu valor real. Assim,
com o mesmo valor nominal passou-se a poder adquirir menos produtos,
menos serviços, menos bens. Diminuiu-se o poder de compra da maioria com
rendimentos mais baixos e mais dependentes.
Senhor Presidente do Parlamento Nacional!
Senhor Primeiro Ministro!
Ilustres Deputados e Membros do Governo!
Excelências!
Quando falamos de taxa media, estamos a admitir que existe uma mínima e outra máxima.
Uma
política macro-económica e fiscal para combater à pobreza deve saber
posicionar-se de tal modo a que os produtos básicos – o cabaz mínimo de
compras – não sofram da taxa máxima de inflação. Assim, a população com
rendimento mais baixo não sofrerá de depreciação no seu rendimento
nominal e não sentirá muito afetado o seu poder de compra.
O
que acontece em Timor-Leste é precisamente o oposto. Pois, a taxa média
anual e geral é 11,8% em 2012. Mas, a taxa de inflação dos géneros
alimentícios foi de 12,5 %. Nestes, os cereais (arroz e outros), raízes e
seus produtos atingiram os 20,9% de inflação e os vegetais, 14,1%.
Todos
sabemos que os mais pobres, os de rendimento mais baixo consomem
fundamentalmente estes produtos com taxas de inflação mais altas que a
média. Os pobres ficam duplamente desfavorecidos: têm rendimentos mais
baixos e suportam taxas de inflação mais altas. Resultado: os pobres
tornam-se cada vez mais pobres. A pobreza cresce.
Podemos
daqui, sem grandes exercícios, concluir que, objetivamente, a repartição
de rendimentos entre os diferentes grupos sociais da nossa sociedade
tende a agravar-se em detrimento dos mais desfavorecidos. Urge assim que
se tomem medidas para repor a justiça social e económica de modo a
prevenirmos potenciais tensões sociais.
Senhor Presidente do Parlamento Nacional!
Senhor Primeiro Ministro!
Excelências!
Disse
mais atrás que a nossa economia é cada vez menos competitiva, ou mesmo,
já incompetitiva. Muitas vezes pensamos que, porque ainda beneficiamos
das receitas do Gás e do Petróleo, preocuparmo-nos demais com a
competitividade da nossa economia é atrasar o desenvolvimento.
Entendemos que a prioridade se centra no desenvolvimento de
infraestruturas de nível mundial e na industrialização rápida do país,
em particular, da Costa sul (Tasi Mane). Colocamos todo o nosso povo a
mirar o mar, convencidos que de lá virá a riqueza. Deste modo o solo
fértil de Timor-Leste deixa de ter importância.
Fazendo
uma leitura ao Estudo da População Activa (EPA) de 2010, onde é
apresentado quadro bastante preocupante. Preocupa-nos quando se diz que a
taxa oficial de desemprego é de 4% e, ao mesmo tempo se reconhece que a
percentagem de indivíduos empregados em zonas rurais é de 72,1% e em
zonas urbanas 27,9%. Por outro lado, também se reconhece que a
percentagem de indivíduos inativos com mais de 15 anos é de 58,3 % .
Portanto, se os dados apresentados objetivamente nos deixam preocupados.
72,1% empregados nas zonas rurais? Que empregos são esses?
Importa
dizer aqui que um estudo também de 2010 do Banco Central que o número
de jovens com 15 anos ou mais totaliza 366 mil. Destes é que 58% estão
inativos ou desempregados.
Importa tornarmo-nos claro e
bem definido qual a base da nossa economia, nesta fase crucial da nossa
afirmação. E qual o factor dinamizador.
Somos uma meia
ilha situada entre sub-regiões de grande competitividade económica.
Precisamos de nos enquadrarmos na nossa região e competir. Para o
fazermos não basta dizer que somos o país que mais cresce economicamente
nesta região. Mas afinal o que produzimos? O que mais tem contribuído
para o nosso Produto Interno Bruto (PIB)? Como está o nosso Mercado de
Trabalho? Como está o índice de desenvolvimento humano. Qual o índice
real da pobreza?
Na verdade, se continuarmos com o
petróleo-mania a dominar toda a nossa política, chegará o dia em que
nenhuma saída mais encontramos senão hipotecar o país. Num país de pouco
mais de um milhão de habitantes onde mais de 60% da população sofre
privações de todo o tipo e outros 18% igualmente vulneráveis a múltiplas
privações, acreditar na taxa oficial de desemprego é, no mínimo,
inaceitável. Precisamos urgentemente de uma política macro-económica e
fiscal adequado para combater a pobreza. A Linha de orientação seguida
nos últimos anos, por mais boas intenções na sua base, provou-se
inadequado, ineficiente, pouco eficaz.
Precisamos de uma política fiscal que:
1.
Promova e garanta mais eficiência nos gastos públicos de modo a
imprimir o crescimento económico e, ao mesmo tempo, garantir o bem estar
para as populações;
2. Satisfaça os objetivos da distribuição equitativa da riqueza e reduza a pobreza;
3. Estabilize a economia;
Para isso, devemos fazer uma gestão racional das receitas do petróleo de modo a:
4. Produzir mais riqueza para todo o povo da atual e futures gerações;
5. Garantir um crescimento económico saudável;
6.
Permitir aumentar as despesas públicas para se investir na garantia de
serviços prioritários, de infraestruturas e do desenvolvimento e
capacitação do capital humano;
Senhor Primeiro Ministro!
Excelência!
Todos
sabemos que as despesas públicas, sublinho, despesas públicas,
aumentaram de uma forma exponencial nos cinco últimos anos. Constitui um
grande orgulho do seu Governo o crescimento económico que Timor-Leste
experimentou. Contudo, todos estamos conscientes dos outros indicadores
económicos. Será que o dito crescimento económico a dois dígitos trouxe,
na mesma medida, a melhoria da qualidade de vida e mais bem estar para
todo o nosso povo? Acho, sinceramente, que a resposta não será de todo
positiva.
Sendo assim, onde nos situamos agora? Vamos
injetar na nossa economia mais e mais recursos, mesmo que os resultados
continuem a não corresponder às nossas expectativas? Ou vamos
privilegiar a eficiência e eficácia na execução dos nossos programas?
AQUI ESTÁ O SEGREDO SR. PRIMEIRO-MINISTRO.
Timor-Leste
já é vítima de excesso de despesas públicas. Por isso encaramos o
fenómeno da inflação. Fenómeno esse que o Governo, em ato de fé
claramente declarada, afirma querer combater. Da sua parte, acredito que
sim.
Mas, que armas usar para tornar este combate eficaz e
eficiente? Como será possível fazê-lo sem que se mostrem mudanças
positivas na questão da política fiscal e da gestão de finanças públicas
e traduzi-las na estrutura do Orçamento? Não podemos acreditar, Sr.
Primeiro-Ministro, enquanto a estrutura do Orçamento de 2013 reflita uma
política Orçamental, uma opção no domínio fiscal e outra na gestão de
Finanças Públicas, no mínimo, de continuidade do passado recente.
Senão vejamos:
Pela
estrutura do Orçamento Geral de Estado de 2013, só podemos concluir que
não existe nenhuma política orçamental e económica coerente com a
preocupação de combate à inflação e à pobreza. (Nem sequer está em
coerência com o PED e o Programa do Governo).
É realmente possível
reduzir a inflação para níveis compreendidos entre 4-5% num prazo de
2-3 anos. Mas é preciso que se assuma este combate como prioritário na
política económica de Timor-Leste e fazê-la refletir na OGE. Pensar que o
podemos como resultado de efeitos secundários da nossa macro-política é
absolutamente errado. Não há outro caminho a seguir senão ir às causas,
Senhor Primeiro-Ministro.
A solução está na revisão da
política de despesas ou gastos públicos. Temos que ter a coragem de
assumir aqui um comportamento mais ousado e tecnicamente mais
responsável. Não há outro caminho senão comprimir o montante dos gastos e
alterar a estrutura. Do OGE que nos é proposto, é perfeitamente
possível reduzir nas despesas, definir novas prioridades e reforçar as
instituições responsáveis pela execução orçamental, adequar o Governo às
necessidades do país, combater a sobre-faturação, o desperdício e a
drenagem dos recursos para benefícios de uma minoria.
Devemos dar ênfase na eficiência, na eficácia e na qualidade (das obras, dos serviços prestados, etc.).
Urge
definir novos pôlos de desenvolvimento numa política clara de levar a
cidade para o campo. A qualidade de vida da cidade, mas com vertente de
mais trabalho e mais eficiência, mais produção e maior produtividade
deverão ser as características dos novos pôlos de desenvolvimento.
O
país não pode todo ele, continuar a mirar só o mar do sul. O próprio
projecto “Tasi Mane” deve ser repensado, tendo em consideração o
adiamento da exploração do Greater Sunrise.
Passemos à estrutura orçamental de que falamos mais acima.
A título de exemplo podemos indicar o caso do Ministério da Saúde. Vejamos.
Dos livros 4B, 5 e 6 da proposta do OGE podemos retirar:
É
proposto como total de Orçamento para despesas correntes para o
Ministério de Saúde de USD 61.5 milhões. Isto corresponde a 7.5% das
despesas recorrentes da OGE. Os doadores disponibilizam USD 31.8 milhões
(15%) do total do apoio dos parceiros ao Governo.
Importa
frisarmos que a dotação da OGE para o Ministério de Saúde comporta a
seguinte configuração: hospitais : 29.4%; Distritos: 30.2%. As duas
rubricas em conjunto totalizam 59.6%. Sete milhões (11,3%) é o montante
reservado para medicamentos e cinco milhões (8,1%) se destinam à compra
de equipamentos médicos
Se somarmos todos os dados acima
indicados podemos concluir o seguinte: cerca de 79,1% da OGE destinado
ao Ministério da Saúde está reservado à prestação direta de serviços e
só 20% das despesas recorrentes são destinados para custos indiretos, ou
seja, administração.
Por outro lado, do fundo das
infraestruturas, apenas USD 2,6 milhões (0,32%) vão para o Ministério da
Saúde. Destes, USD 1,28 milhões são já destinados para a construção do
Hospital de Baucau, um milhão para o Palácio das Cinzas e 326 mil para a
instalação de uma Unidade Intensiva de Cuidados Cardíacos do HNGV.
Mais
ainda, do Fundo do Desenvolvimento do Capital Humano de USD 38. 898
milhões só USD 4. 372 milhões (12.8%) estão destinados para bolsas de
estudos para o Ministério da Saúde.
Há assim, entre outras
questões da mesma gravidade, podemos frisar que existe um desequilíbrio
claro na distribuição interna do orçamento a nível do Ministério,
nomeadamente, entre os serviços hospitalares e os cuidados primários,
bem como a falta de equidade na distribuição do orçamento entre os
hospitais e também entre os serviços distritais de saúde.
Falamos
atrás de Gestão de Finanças Públicas. Neste domínio temos a frisar o
seguinte: nos últimos dois meses do ano fiscal de 2012 o Governo retirou
do Fundo Petrolífero cerca de USD 500 milhões. O Governo já sabia ser
impossível executar todo este montante. Porque então o retirou? Em
termos de rendimento, manter este dinheiro no Fundo Consolidado de
Timor-Leste, tendo em consideração o juro que o Banco Central paga, será
muito inferior ao do Fundo Petrolífero. Perguntamos: que gestão de
finanças públicas é esta?
Senhor Presidente do Parlamento Nacional!
Senhor Primeiro-Ministro!
Ilustres Deputados e Membros do Governo!
Excelências!
Não
quero abusar da paciência de Vossas Excelências. Mas não tenho dúvidas
nenhumas que o combate à pobreza deve começar pela eliminação das
assimetrias entre a cidade e o campo. Com isto quero dizer que devemos
privilegiar as zonas fora de Dili e iniciar uma política regional de
desenvolvimento integrado. Em 2005, tinha iniciado esta política com a
nomeação de membros do Governo responsáveis por grupos de Distritos e
Oé-Cusse. Era uma tentativa de aproximar o Governo das populações. Uma
opção para provocar mudanças na estrutura de governação. Talvez haja
outras melhores, antes da tão propalada descentralização. Mas queremos
formas estruturantes, sistémicos, coerentes, atrativos, competitivos. No
mínimo, o Pacote Referendum (PR), o PDD1, o PDD2, etc. não preenchem os
requisitos aqui exigidos de um desenvolvimento integrado regional.
Em
termos do sector privado devemos ter uma postura responsável de
promoção do empreendedorismo, da criatividade. O Orçamento deve
reflectir a preocupação com incentivos para a criação de micro, pequenas
e medias empresas e capacitar estas na área de agro-indústria que
inclui o desenvolvimento da agricultura e a transformação industrial dos
excedentes de produção.
Tirando o petróleo, só temos
praticamente o café como produto de exportação. Temos que melhorar e
aumentar a produção e a produtividade do café. Para isso uma intervenção
no sentido da renovação das culturas já envelhecidas.
Senhor Primeiro-Ministro!
Eu
sei que é da sua total competência a constituição e a definição da
organização do seu Governo. Mas, olhando para o Governo atual, não me
deixam dúvidas que ele próprio é um meio de drenar recursos públicos de
uma forma pouco eficiente. É um Governo grande, enorme, para o país que
temos. Para além do mais, quase me arrisco a afirmar que no seu seio
vive um conflito de competências, uma sobreposição de actos no momento
de execução dos programas. Tudo isto atrasa o processo.
Tenho dito.
Muito obrigado.
.
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