Díli, 22 jan (Lusa) - O ex-ministro do Interior timorense Rogério Lobato disse hoje ter sido o bode expiatório da crise de abril e maio de 2006 e que vai começar a denunciar todas as injustiças existentes em Timor-Leste.
Rogério Lobato falava aos jornalistas durante uma conferência de imprensa convocada pela sua prima e antiga ministra da Justiça Lúcia Lobato, condenada a cinco anos de prisão por participação ilícita em negócio, para denunciar alegadas irregularidades no sistema judicial do país.
"Tenho ficado muito calado relativamente àquilo que se passou comigo em termos de justiça. Eu estou aqui num gesto de solidariedade para com a minha irmã, porque eu acho que Timor-Leste não merece esta justiça", afirmou Rogério Lobato.
Rogério Lobato foi condenado em 2007 a sete anos e meio de prisão por ser o autor indireto de quatro crimes de homicídio na crise de abril e maio de 2006, que culminou em confrontos armados e à queda do chefe do executivo, Mari Alkatiri, da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), bem como dos titulares da Defesa e do Interior.
Depois de autorizado a receber tratamento médico no estrangeiro, o ex-ministro do Interior do acabou por receber um indulto presidencial de José Ramos-Horta em 2008, e não cumpriu a totalidade da pena.
"No meu caso pessoal, os meus advogados provaram tudo mas eu tinha de ser condenado, porque esta era uma decisão que já tinha sido tomada ao mais alto nível, mesmo ao nível das Nações Unidas. Tinha de haver um bode expiatório. Eu fui o bode expiatório", afirmou, bastante emocionado, Rogério Lobato.
O antigo ministro, que se candidatou como independente às eleições presidenciais de março, recordou também que optou pelo silêncio durante todo o seu julgamento para "não arrastar" outras pessoas.
"Isto não vai ficar assim. Nós somos gente com coragem, não apenas para lutar pela independência, mas para pôr isto no lugar", gritou emocionado o antigo ministro timorense.
Sublinhando que respeita os órgãos de soberania e que ninguém está acima da lei, Rogério Lobato disse bastar de "injustiça" no país.
"Isto não vai ficar assim. Nós vamos lutar. Respeitamos os tribunais, que são um órgão de soberania, mas nós todos contribuímos não apenas com palavras, mas com sangue, com vida.
Morreu-se muito nesta família para que Timor-Leste fosse um Estado independente", referiu.
Rogério Lobato disse também que a partir de hoje vai estar "na linha da frente" para denunciar situações de injustiça em Timor-Leste.
"Eu tenho o direito de levantar a minha voz para condenar aquilo que não está bem. O que está a acontecer à Lúcia e o que aconteceu a mim leva-me a perguntar porquê que só os Lobato têm de enfrentar justiça, porquê", questionou.
A 08 de junho, antiga ministra da Justiça timorense foi condenada a cinco anos de prisão pelo Tribunal Distrital de Díli pela prática de um crime de participação económica em negócio, relativo à aquisição de fardas para equipar guardas prisionais da Direção Nacional dos Serviços Prisionais e de Reinserção Social.
Lúcia Lobato, que integrou o executivo chefiado por Xanana Gusmão em 2007, perdeu todos os recursos apresentados desde então.
Rogério Lobato é irmão de Nicolau Lobato, herói nacionalista timorense, que dá o nome ao aeroporto de Díli e à sede da Presidência timorense, e segundo Presidente do país, da FRETILIN e comandante das FALINTIL até à sua morte em combate no último dia de 1978.
MSE // HB
Lusa/Fim
,
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.